domingo, 27 de março de 2022

Compêndio narrativo de um peregrino em uma vila de antigamente

A gente é honrada 
Os homens são trabalhadores 
Saem cedo para a roça e só voltam com o entardecer 
Enquanto as mulheres cuidam das crianças 
Algumas descem ao rio 
Com suas bacias na cabeça 
Batem as roupas nas pedras 
Enquanto conversam animadamente 
As crianças brincam nas águas do rio 
Elas ignoram a lenda do minhocão 
Afinal, quem acredita em uma história dessas? 

Há homens já idosos Sessenta, setenta e alguns até com oitenta anos 
Eles contam causos de antigamente 
Da época em que chegavam nos barcos 
A mercadoria para o armazém 
E as notícias do mundo europeu 
Enquanto ali nas janelas 
As mulheres trocavam informações 
Sobre o belo moço que estava no baile do fim de semana 
As crianças brincam nas calçadas 
Fazendo grande algazarras. 

Alguns dos homens devem muito réis 
Nas casas de prazeres 
E a dona de um deles vivem ameaçando-lhes 
Para pavor das donas de casa 
Enquanto as crianças correm para pegar as mangas 
Espalhadas pelo chão depois do vento forte 
E a chuva que caiu na vila. 

Tudo é tão monótono 
Parece que o mundo só existe por aqui 
Onde as pessoas são felizes 
Nas margens deste caudaloso rio 
Uma vida inteira poderia viver 
Desfilam as moças pela praça 
Vestidos de veludos e tecidos coloridos 
Enquanto as mulheres são muito mulheres e não muito devotas 
Os homens se encantam com as donzelas 
Protegidas por seus senhores imponentes em seus cavalos. 

O por do sol revela o encanto de uma iluminura 
Que parece ter sido pintada pelo maior artista do mundo 
Uma beleza tão magnífica que nunca irá sair da minha mente 
Enquanto as crianças brincam pelos campinhos de terra 
Eu me despeço silenciosamente deste lugar 
E sigo minha viagem 
Paro por alguns minutos para registrar as minhas impressões 
No compêndio da minha existência. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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