O andarilho sozinho que vi na esquina
Não parecia sentir a tristeza do mundo
Da mesma forma que a velha senhora no riacho
Que lavava as roupas da família
Ao mesmo tempo que cuida
Dos netos a correr pelos campos
Espantando as borboletas pousadas nas flores.
Aquela moça de olhar bonito e misterioso
Que olhava atentamente para o rapaz na academia
Não me pareceu preocupada com o homem
Que gritava alucinante no bar da esquina
Para que o jogador do seu time
Pudesse concluir a jogada fazendo o gol.
Tempos de paz não condiz com a esperança
Assim como tempos de guerra não se alia a monotonia
De mulheres andando alegremente pelos shoppings
Nem mesmo com jovens de semblantes pesados
Que correm como loucos para não perderem
O tempo certo de fazerem suas provas.
O mundo é só uma loucura total em tempos sombrios
A conexão que não se sabe ao certo onde começa
Nem pode-se afirmar que alguém saiba onde termina
Apenas tentáculos de um sistema invisível
Que prende todos em uma grande teia
Para serem devorados
Pelo grande monstro do urgente.
Lugares sombrios não são mais perigosos
Do que a sala de estar onde está a televisão ligada
Ou no quarto onde estão as crianças
Com seus aparelhos ligados
Nos maiores perigos da humanidade
E quase ninguém está preocupado com isso
Porque cada um tem
A sua parcela de preocupação consigo mesmo.
Perdemos o equilíbrio da vida
Ou apenas assistimos impassíveis
Até que haja a destruição total de todos os pensamentos?
Somos frutos de um tempo perdido
Ou estamos perdidos em um tempo abominável
Que leva a humanidade a não pensar em mais nada?
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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