quinta-feira, 20 de junho de 2024

A noite dos gafanhotos

Será delírios vagos de quem nada sonha 
Os caminhos percorridos pela mente? 
Quem viu o último dilúvio de lágrimas 
E não se afogou nas tristes correntezas? 
Alguns gigantes pisaram as flores no jardim 
E esmagaram as formigas sem piedade 
Simplesmente porque quiseram. 
 
Uma criatura tão bela saiu da penumbra 
Dançarina de saia púrpura 
Com batons sedutores nos lábios 
Fez ressurgir os desejos no velho homem 
Que acreditava ter passado os seus dias 
Mas agora sorria sozinho em seu canto 
Com um leve sorriso de esperança no rosto. 
 
Nos passos de uma alma desconcertante 
Um perfume ficava impregnado no ar 
Como lembranças que não se dão por vencidas 
No tempo em que não se pode fechar os olhos 
Apenas um suave modo de naufragar nas ilusões 
De quem imagina um novo momento 
Para se viver o que deixou escapar. 
 
Na crepitante fogueira lúdica da saudade 
Há sempre uma busca incessante por amor 
Mesmo que isso seja apenas uma louca obsessão 
Nada pode ser oculto do coração silencioso 
Nos campos férteis da paixão 
Criaturas devoram todo o sentimento 
Na noite profanada pelos gafanhotos. 
 
Abraços não são mais solicitados 
Nem mesmo daqueles que tanto desejavam 
Esbaldarem-se nos néctares de desejos 
Ao embalo das lindas canções de amores perdidos 
O que se vê ao longe são miragens 
Dos cordeirinhos brancos espalhados pelo chão 
Provocando o fim de toda uma imaginação. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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