sábado, 27 de novembro de 2021

O cavaleiro, a morte e o demônio

O cavalgar lento agora do equino contrasta com sua fúria de minutos atrás 
E possibilita ver algumas flores entre as rochas das montanhas 
O caminho é íngreme e traiçoeiro 
E pode sentir ainda na nuca o bafo quente da sua perseguidora 
Silenciosamente ela sorri entre as sombras 
Deixando transparecer que ela sabe exatamente em qual encruzilhada 
Ele chegará em seu destino final. 
Em seu ombro um pequeno ser crava suas garras cada vez mais forte 
E sussurra palavras em seus ouvidos: 
"Você não é nada, diz o pequeno gênio com voz embargada, 
Não passa de mais uma marionete nas mãos dos poderosos" 
"Você acreditou nas palavras de um imbecil 
E acreditou mesmo que pudesse chegar ao paraíso por isso?: 
"Tolos! Todos vocês são tolos em acreditar nessas coisas" 
Em sua memória vem o olhar de sua linda esposa 
Deixada sozinha a mais de dez anos 
Enquanto ele saia para conquistar bravamente a sua liberdade 
A espada ainda jorra o sangue 
E não consegue dormir por causa dos gritos de horrores 
Das vidas que tirou ao fio da espada. 
Seu cavalo parece ler seus pensamentos 
E pode ver, em meio a escuridão, a foice brilhar 
Nas mãos daquela que está sempre a acompanhá-los. 
Em sua perseverante perseguição 
Ela espreita em cada folha das poucas árvores existentes 
Está atrás das grandes pedras 
E voa com as nuvens que cobrem a luz da lua. 
"Você abandonou a sua esposa e nem sabia que ela estava grávida, 
O demônio sussurra em seus ouvidos e suas palavras são como adagas afiadas 
Cravam seu coração e o sangra. 
"Se realmente fiz isso, pensa consigo mesmo, mereço a morte mais horrível 
Entrego-me a você que espreita-me pelo caminho". 
Nunca a viu sorrir, mas sabe que ela está triunfante 
Sua hora chegou e lamenta não saber ter feito as escolhas certas 
Poderia ter sido feliz ao lado de sua donzela 
Quem sabe teria visto as crianças correrem pelo cercado 
Teria vivido uma vida simples em uma pequena cabana nas montanhas 
Mas preferiu a ambição da conquista militar 
Afinal era um cavaleiro precisava ter honra. 
Sente um vento frio percorrer a sua espinha 
Quando ouve o som impetuoso de uma flecha que rompe o silêncio 
Apenas sente a sua ponta afiada penetrar sua armadura 
Em fração de segundos toda sua vida passa diante de seus olhos 
O demônio bate as suas asas e se distancia dele 
Enquanto a morte sorri levemente sabendo que venceu mais uma vez 
Seus olhos se fecham lentamente e agora só resta um silêncio mortal. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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