domingo, 14 de novembro de 2021

Querubim

Montou um querubim e voou 
Sem direção certa 
Apenas deixou-se ser guiado pelos pensamentos 
Por isso não viu a terra ser abalada 
E nem ouviu os gritos de desespero 
Dos que tombavam pelo chão. 

Se o coração deixou-se ser seduzido 
Os seus passos foram desviados do caminho 
Sentia as cordas apertarem suas mãos 
E lembrou-se das viúvas 
Dos órfãos que deixou morrerem sozinhos 
Como se fossem todos destinados a isso. 

Um dragão cruzou o seu caminho 
As nuvens estremeceram 
Não via mais o querubim 
Sentia apenas que caia no espaço 
E sabia que a morte era tão real 
Quanto a vida medíocre que tivera. 

Por que somos tratados como animais? 
Por que caímos nas armadilhas do tempo? 
Faze-me entender tudo isso, disse ele angustiado 
Sem saber que tudo havia chegado ao fim. 

Trocaram a noite pelo dia 
E tentou até mesmo ver através do espelho 
Se eu olhar a sepultura como a minha casa, pensou 
Poderei estender os lençóis da eternidade 
Na confortável sensação do não existir. 

São apenas sentimentos sem sentidos? 
Sonhos tão surreais que não existem? 
Assombrado para sempre, então, estará 
Se quiser viver outra vida 
Além da que um dia pensou estar vivendo. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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