No topo de uma antena parabólica os pássaros não pousam
Enquanto palavras manuscritas caem como penas
Nas cabeças ocas perfuradas por melancolias
Numa clínica maluca estão os destroços de alguns corações
E os corpos grandes e gordos começam a cair.
A próxima garota e sua próxima dose de entorpecente
Ao som estridente de uma louca gritaria
Se diverte junto a um apanhado de caras comuns
Que fazem promessas nos submundos da cidade
Onde estão os ratos e outros milhares de parasitas.
As fábricas não param por nada em nem um momento
Porque tudo é fabricado e tudo segue o trajeto linear
O horário comercial se estende até além do planejado
Porque a violência precisa ser dublada e programada
Para o horário nobre em todos os lugares possíveis.
Está compreendendo o que estou tentando dizer?
Eu morri e eu renasci e abri os meus olhos
E percebi o caminhar da humanidade como bovinos
Que não consegue ver as desgraças que os cercam
Porque é nisso que se resume a coisa: ignorância!
Você está aqui mesmo quando pensa que não está
Consumindo mais um produto desnecessário
Apenas para satisfazer o seu egoísmo interno
Dizendo que está planejando o futuro
Sem saber que não consegue distinguir nada mais.
O que pensou que seria esse futuro tão sonhado?
Um paraíso coberto de flores pelos campos?
Tudo bem que tenha pensado assim e não imaginado
A metamorfose de um futuro sombrio
Onde somos costas curvadas e colunas envergadas.
O seu rosto não me é estranho
Mesmo assim acho impossível me dizer coisas novas
Se meus olhos já contemplam esse cenário distópico
Que quase ninguém quer perceber porque preferem
Continuar sua caminhada de olhos bem fechados.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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