sexta-feira, 22 de julho de 2022

Em uma rua qualquer de algum lugar

Por um instante os olhos se abriram 
Diante de si as imagens de um tempo remoto 
De alegria e sonhos a serem realizados 
Os olhos atentos buscavam entender 
Sabia a sua triste situação 
Deitado ali naquela sarjeta 
Tendo jornais velhos como cobertor 
E buscando no final do dia nas latas de lixo 
O seu alimento para sobreviver. 
 
A vida havia o empurrado para os becos 
Na companhia de outros infelizes 
Cuja vida não fazia mais sentido algum 
Apenas uma existência vazia 
Em um mundo contaminado pela dor 
E abandonado pela hipocrisia de seus cidadãos. 
 
Preferia viver entre as latas de lixo 
Em meio a sujeira das ruas 
Embrulhado nos jornais e cobertores velhos 
Do que suportar a arrogância de gente hipócritas 
Sentadas em suas cadeiras confortáveis 
Explorando mais um indigente jogado nas sarjetas. 
 
Mas nem sempre fora assim e isso o machucava sempre 
Ao lembrar sua vida na juventude 
A linda esposa, a família, o emprego 
Os finais de semana no lago, na grama a brincar 
Com sua linda filha pequena 
E, ao lembrar tudo isso, não continha suas lágrimas 
Que tentava esconder entre as barbas longas 
No rosto triste de uma saudade. 
 
A noite é fria e o vento silencioso empurra os jornais 
Tenta se agasalhar como pode entre os trapos 
E olha firme para o vidro de uma loja chique na esquina 
No reflexo do espelho vê a imagem que muda seu coração 
Do outro lado da rua duas mulheres 
Com olhares entre a dor e a esperança 
Faz com que seu coração quase deixe de bater. 
 
A sua linda garotinha cresceu 
E agora é uma jovem adolescente de rosto angelical 
Seus passos são vacilantes entre o desejo de abraçá-la 
Ou correr para bem longe 
Onde poderá esconder a sua tragédia. 
 
Sua esposa trás em si as marcas da dor 
Em um rosto marcado pelo abandono de quem amava 
Mas seu semblante também era de perdão 
Como se o tempo pudesse mudar aquela situação 
E tudo voltar ao normal outra vez. 
 
A jovem dá os passos decisivos em sua direção 
Não se importa com a sujeira e o mal cheiro do lixo 
Com sinceridade e lágrimas nos olhos 
Ela o abraça forte e sussurra em seus ouvidos: 
- Papai! 
Sob os olhares de seus colegas e transeuntes nas ruas 
Há uma comoção nos corações 
Que se alegram com esse reencontro. 
 
Então o barulho estridente de um carro em alta velocidade 
O faz acordar do sonho 
E contempla atormentado a sua miséria 
Deixa escapar lágrimas de seu rosto 
E pensa na sua família a muito tempo deixada para trás. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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