quarta-feira, 12 de abril de 2023

Conversas com o diabo

Noites intermináveis onde os pensamentos bailavam 
Sussurros entre as ruas escuras da cidade 
Nos becos sem saída de vielas abandonadas 
Encontrou a paz que tanto procurava 
O refrigério para uma alma atormentada 
E não desejava falar sobre isso com ninguém. 

Cansado das mentiras proferidas em seus ouvidos 
Procurava alguém em quem pudesse confiar 
Depois de tantas decepções na vida 
A pessoa perde a esperança de ser ouvido 
E não confia em mais ninguém 
Nem mesmo naqueles que abrem logo um sorriso. 

Saturado da presença dos seres humanos 
Bandos de hipócritas interesseiros 
Deixou-se descansar da fadiga humana 
No mais lúgubre local onde pudesse se esconder 
E as melhores lembranças que lhe vieram a mente 
Foram suas longas conversas com o diabo. 

Nunca quis que isso acontecesse 
Mas não pode evitar o encontro 
Suas queixas que pareciam fazer sentido 
Não passava de reclamações banais e só pode entender isso 
Quando o agente do Inferno lhe disse face a face 
Que o ser humano é ambicioso e orgulhoso. 

Entendeu a partir desse diálogo impensável 
Que poderia ser uma pessoa diferente 
Enquanto perambulava pelos becos escuros da cidade 
Mas em seus discursos sutis, o seu interlocutor, 
Deixou claro as suas intenções de massagear o ego humano 
Para obter a sua conquista do mundo inteiro. 

Muito além do que os olhos humanos podem ver 
As nuvens que impedia o brilho da lua aparecer 
São levadas pelo vento oriental para as montanhas 
E, na claridade do corpo celeste, agora fulgurosa 
Pode contemplar o fundamento de seu diálogo 
Com o único ser que foi expulso do lugar mais alto. 

Pega, então, as suas folhas de jornais amarrotadas 
E cobre as suas feridas na madrugada fria 
Antes de fechar os olhos percorre a vastidão 
Os pensamentos em turbilhões de conjecturas 
Tateando no ar uma resposta plausível para perguntas 
Que nunca serão respondidas a contento. 

 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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