E, em algum lugar, alguém não se aguenta
A felicidade que permeia
E sorri de alguma desgraça alheia
Menospreza o sentimento como se nada importasse
Nem mesmo o desespero humano
De tempos imemoriais que não importam mais.
Eu sinto calafrios em mim
Todas as vezes que vejo alguém tão sério
Um rosto amigo não se faz pela manhã
E nem tudo que parece ser empatia
De fato pode ser apenas uma armadilha
Preparada para os ignorantes contumaz
Que não se preocupam nem um pouco com a vida.
O mundo é um trem desgovernado
Passando a todo vapor na estação
Com pessoas gritando aos quatro ventos
As suas inconstantes peripécias
De aventuras não realizadas por falta de objetivos
Quando preferem se esparramarem diante da TV
Com suas barrigas enormes.
Fecho as janelas para tentar dormir
E ouço os gritos horríveis que rompem o silêncio
Querem uma solução para seus problemas
E se esquecem de quem eles mesmos os causaram
São apenas frutos de uma colheita
Das sementes que espalharam ao longo da vida
E não há nada que alguém possa fazer para ajudar.
Existem até alguns que ignoram esses fatos
Preferem ficar com seus fones nas orelhas
É melhor ouvir uma música qualquer do que os gritos
Melhor correr pelas calçadas do que ver a miséria
Melhor conformar-se com o caos do que levantar as mãos
E deixar que a vida se encarregue de suas mazelas.
Cale a boca! Grita alguém na rua escura
Vá dormir que você ganha mais!
E quem consegue dormir com todo esse barulho?
Com esses gritos tão perturbadores que incomodam
Que invadem os tímpanos e os corroem
Causando náuseas profundas nas mentes opacas
Que provocam convulsões terríveis.
Fecho os olhos em meio a escuridão
Não há nenhuma luz no fim do túnel
Na verdade, nem túneis existem mais por aqui
Foram utilizados pelos moradores de ruas abandonados
E estão cheios de ratos por todos os lados
Que se misturam com os cães sem donos
E tudo isso bem ao nosso lado.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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