segunda-feira, 31 de março de 2025

Sem sentido

Essa despedida sem sentido 
É como um vento que sopra sem direção, 
Uma carta escrita sem destinatário, 
Uma vela acesa sob o sol do meio-dia. 
 
É um adeus que ecoa no vazio, 
Um nó que se desata 
Sem nunca ter sido atado, 
Um trem que parte sem jamais ter chegado. 
 
Talvez seja apenas o tempo 
Brincando de ilusão, 
Ou a vida 
Tentando nos ensinar que algumas partidas 
Não têm explicação — apenas silêncio. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 30 de março de 2025

Quando me olhas

Nos teus olhos, vejo mais do que luz— 
Vejo o céu inteiro, vejo a minha alma. 
O brilho que dança na tua íris 
Não é só reflexo, é entrega, é chama. 
 
Quando me olhas, o tempo se dobra, 
O mundo se cala, o amor se revela. 
Sou um rio que corre para teu brilho, 
Um verso perdido na tua aquarela. 
 
Se o amor tem forma, se o amor tem cor, 
Ele mora no reflexo que vem de ti. 
Pois quando me vejo nos teus olhos, 
Descubro que sempre estive ali. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 29 de março de 2025

O homem eterno

O homem eterno 
É um eco do infinito, 
Um sopro de luz 
Aprisionado no cárcere da carne. 
Sua alma, imortal e errante, 
Veste-se de tempo 
E esquece-se do seu verdadeiro nome. 
 
Cada batida do coração 
É um chamado para o alto, 
Um lamento silencioso 
Da eternidade que habita o transitório. 
 
Os ossos são grades, 
A pele é véu, 
E os olhos, ainda que janelas, 
Mal vislumbram 
A vastidão que os aguarda 
Além do horizonte do corpo. 
 
O homem eterno sonha com asas, 
Mas anda com pés de barro. 
Busca na matéria a centelha do divino 
E, ao encontrá-la, 
Percebe que ela 
Sempre ardeu dentro de si. 
 
Na despedida da carne, 
Ele se reencontra. 
O cárcere se desfaz, 
E a alma, enfim livre, 
Retorna à melodia do cosmos, 
Onde nunca deixou de estar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O rei amaldiçoado e o homem só

O rei amaldiçoado 
Veste sua coroa de espinhos invisíveis, 
Cada joia um peso de mil lamentos. 
O trono que ergueu com glórias passadas 
Agora é um cárcere de ouro frio, 
Onde os ecos de antigos juramentos 
Se tornam espectros a assombrá-lo. 
 
E o homem só, 
Errante entre os campos do destino, 
Caminha sob luas indiferentes. 
Sem coroa, sem trono, 
Carrega apenas o silêncio como cetro 
E a liberdade como fardo. 
Pois há prisões no poder 
E há prisões na solidão — 
Mas qual delas é a mais cruel? 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 28 de março de 2025

A chegada

Chegaste de forma singela 
Quase não a percebi 
Mas ali estava tu 
A imagem da beleza sútil 
Que dominou minha insensatez. 
 
O dia nem lembro como era 
Porque o tempo parou 
Tudo que consegui perceber 
Foi a singeleza do seu olhar 
O encanto que inebriou-me. 
 
Tudo era solidão 
Perto de mim o medo inconsciente 
A ilusão de amores perdidos 
E o amargo pesadelo 
De outra vez me apaixonar. 
 
Mas não havia nada a ser feito 
Nada que eu pudesse fazer 
Senão curvar-me diante de ti 
Deusa da minha imaginação 
O amor que sonhei a vida toda. 
 
E você chegou assim 
Quando eu menos esperava 
Você sorriu para mim 
E isso fez toda diferença na minha vida 
E preencheu o meu coração. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 26 de março de 2025

O paradoxo da urgência

Corremos, corremos, sem pausa ou porquê, 
Mas nunca nos perguntamos: corremos pra quê? 
O tempo escorrega entre dedos aflitos, 
E os dias se perdem em passos restritos. 
 
O agora sufoca, o amanhã nos consome, 
O relógio nos grita, nos cobra, e some. 
A pressa é constante, o destino é nublado, 
Um ciclo infinito, um rumo apressado. 
 
Queremos o topo, queremos o mais, 
Mas quando chegamos, queremos a paz. 
A paz que deixamos, perdida na estrada, 
Trocada por metas, e uma agenda lotada. 
 
Se o tempo é dinheiro e a pressa é um vício, 
Quem dita o preço desse sacrifício? 
Se o fim é incerto e a pressa um engano, 
Por que não sermos um pouco mais humano? 
 
Então eu te pergunto, em meio a essa corrida: 
Que tal desacelerar e sentir um pouco a vida? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 25 de março de 2025

Entre os cacos

Num mundo que corre, sem pausa, sem freio, 
Onde a pressa devora até mesmo o anseio, 
Ousar perguntar é quase um perigo, 
Um ato rebelde, um salto ao abismo. 
 
O ruído se ergue em muralha espessa, 
Atropela verdades, dilui a promessa. 
Mas quando o eco se faz insuportável, 
O silêncio se ergue, firme, incontestável. 
 
E quando as certezas caem por terra, 
Feito vidro partido no chão da espera, 
O pensamento, descalço, caminha entre os cacos, 
Tateando o novo em meio aos destroços. 
 
Pois só quem se perde entre mil incertezas 
Descobre que a dúvida é sua fortaleza. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 23 de março de 2025

Justiça

 A justiça veste um véu que o vento descobre, 
Mas seus olhos, cegos, ainda hesitam. 
Vem a cavalo, dizem, mas tropeça em pedras 
Que a injustiça semeia pelo caminho. 
 
Nos tribunais, a balança inclina-se, 
Não pelo peso da verdade, 
Mas pelo ouro que lhe é posto na mão. 
As palavras da lei são frias, 
Mas o que buscamos é fogo,
Justiça que arde, que pulsa, que vive. 
 
Anoitece, e as sombras sussurram 
O que ninguém ousa explicar. 
Não há justiça na casa da justiça, 
Pois ali, a verdade é só um eco distante, 
Perdido entre os corredores do poder. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Simplicidade

A flor desabrocha sem perguntas, 
O rio corre sem dúvida, 
Mas nós — ah, nós — 
Carregamos o peso do porquê 
E esquecemos de apenas ser. 
 
Talvez a simplicidade 
Seja aceitar o instante, 
Permitir-se fluir, 
Como a brisa que não teme o amanhã. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O paradoxo da existência

Há uma voz que ecoa no silêncio, 
Grita nas sombras, mas ninguém a escuta. 
É o canto da verdade amarga, 
O lamento dos invisíveis, 
O verbo esquecido antes de ser dito. 
 
O poeta vê o tempo ao contrário, 
Sente o amanhã como quem lê as veias do vento. 
Cada palavra escrita é um destino moldado, 
E no caos da metáfora, 
Um mundo nasce antes de existir. 
 
O fim não tem pressa, 
Não se dobra aos caprichos da vontade. 
Mesmo quando enterramos as memórias, 
Elas florescem sob a terra, 
Teimando em ser eternas. 
 
O vento sopra e sopra outra vez, 
Como um sonho inalado pelo divino. 
Seus dedos invisíveis tocam a pele do mundo, 
Viciados em movimento, 
Inebriados pela dança do eterno. 
 
A simplicidade de existir é um paradoxo: 
Tão leve quanto o vento que dança, 
Tão densa quanto o silêncio que pesa. 
Ser é um ato tão natural quanto respirar, 
Mas a consciência nos enreda em labirintos 
Onde buscamos significados 
Para aquilo que já é inteiro. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 21 de março de 2025

A chaga oculta

No silêncio das sombras frias, 
Tece-se o fio da traição. 
Mãos que juraram justiça, 
Vendem-se ao ouro da ilusão. 
 
Sonhos se tornam ruínas, 
Honra se perde no mar, 
Onde moedas afundam consciências, 
E a verdade deixa de brilhar. 
 
Cada pacto selado no escuro 
Rouba o pão de quem tem fome. 
Cada mentira bem dita 
Apaga histórias, apaga nomes. 
 
Mas o tempo, senhor do destino, 
Sabe pesar cada ação. 
A justiça pode ser lenta, 
Mas sempre encontra a razão. 
 
E quando as máscaras caírem, 
E o véu da farsa ruir, 
O que restará dos corruptos, 
Senão o eterno exílio do porvir? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 20 de março de 2025

O que é poesia?

Poesia é vento que dança no ar, 
É onda que vem sem avisar, 
É riso e lágrima, luz e luar, 
É tudo e nada num só respirar. 
 
É voz do silêncio, som do sentir, 
É chama que arde sem se exibir, 
É traço invisível, eterno a insistir, 
É o mundo inteiro num breve existir. 
 
É pássaro livre, é sonho acordado, 
É tempo suspenso num verso bordado, 
É rima que embala, é dor que conforta, 
É porta entreaberta para outra porta. 
 
Poesia é vida que pulsa no peito, 
É alma despida, sem medo, sem jeito, 
É arte, mistério, encanto e magia... 
A poesia? Ah... a poesia! 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 19 de março de 2025

É veneno o teu encanto

 Teu olhar, centelha ardente, 
Queima a alma, prende a mente, 
Num feitiço tão sutil, 
Que vicia, é doce, é vil. 
 
Teu toque, brisa envenenada, 
Suave, leve, enlaçada, 
Entre beijos e meu egoísmo, 
Deixo-me cair no abismo. 
 
E se é veneno o teu encanto, 
Bebo a taça sem espanto, 
Pois morrer de amor assim, 
É um destino bom pra mim. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 18 de março de 2025

Últimas palavras de amor

As últimas palavras deste amor 
E você vai ter que ouvir. 
Não são súplicas, nem promessas, 
Nem mesmo versos tentando te iludir. 
 
São restos de tudo que um dia fomos, 
O infinito eco do que já sonhamos, 
Nas noites em claro, os sonhos 
De tudo que não realizamos. 
 
Você vai ter que ouvir 
O silêncio gritando entre nós, 
As memórias que dançam no escuro, 
O peso do adeus em minha voz. 
 
Não vou pedir que volte, 
Nem fingir que ainda há solução. 
Mas antes de tudo acabar, 
Deixa-me dar o meu perdão. 
 
Pois mesmo que o tempo não apague, 
Mesmo que o vento sopre e termine a dor, 
As últimas palavras do coração 
Serão sempre: "Vá em paz, meu amor!" 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 16 de março de 2025

Jeitinho de menina

Tem um riso solto, um olhar de encanto, 
Corre descalça sentindo o vento, 
Traz no peito um mundo vasto, 
E nos olhos, estrelas ao relento. 
 
Jeitinho de menina, doce e ligeira, 
Brinca com a vida sem medo de errar, 
Mas guarda segredos na alma inteira, 
Gosto de mulher que sabe amar. 
 
É tempestade, é brisa serena, 
Delicadeza que arde em brasas, 
Um sopro de flor, um fogo que acena, 
Caminha firme sem perder as asas. 
 
 Jeitinho de menina, sonhos no peito, 
Gosto de mulher que sabe o que quer, 
Faz do impossível um rumo perfeito, 
Mistério e força em um só viver. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

O dia que decidires me beijar

O dia que decidires me beijar, 
O tempo, com certeza, há de parar no ar. 
As horas perderão seu compasso, 
E o mundo caberá em um único abraço. 
 
O vento há de sussurrar em desatino, 
Contando às folhas o nosso feliz destino. 
O sol hesitará no horizonte distante, 
Com medo de apagar esse mágico instante. 
 
Será um beijo de primavera, 
Cheiro de flor, gosto de espera? 
Ou será brisa de verão, 
Febril, ardente, furacão? 
 
Talvez venha feito outono, 
Suave, num toque sem dono. 
Ou como inverno, tímido e frio, 
Mas quente no meio ao provocar arrepio. 
 
E quando enfim me beijares, 
Não haverá mais talvez. 
Só o instante em que os lábios se encontram 
E tudo recomeça outra vez. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 15 de março de 2025

Eleitor brasileiro

Colhe-se fácil o voto do ignorante, 
Semeando o medo em solo infértil, 
As mentiras são destiladas 
Onde a verdade é planta disforme 
E as inverdades florescem 
Como plantas daninhas nas mentes 
De pessoas que não pensam em seus atos. 
 
A verdade, em mãos erradas, 
Torna-se argila 
Moldada ao gosto de quem a toca, 
Deformada ao ponto de parecer outra coisa. 
Mas mesmo a mentira bem esculpida 
Carrega rachaduras: 
A essência do que foi omitido 
Sempre encontra um jeito de vazar. 
 
Nos grandes templos religiosos
E nas pequenas comunidades,
A influência eclesiástica 
Manipulam seus fiéis 
Que seguem de olhos fechados 
Como ovelhas ao matadouro 
E depositam seus votos 
No candidato apresentado pela liderança. 
 
Promessas grandiosas 
Erguem-se como pirâmides no horizonte, 
Mas muitas não passam 
De sombras sobre a areia. 
O tempo, implacável, 
Dissolve os discursos eleitoreiros 
E deixa apenas ruínas do que nunca foi. 
 
Prometem acordos e privilégios, 
Mas esquecem-se que 
Acordos são fios invisíveis 
Tecendo destinos, 
Mas nem todos seguram a linha do mesmo lado. 
Privilégios, muitas vezes, 
São nós apertados por uns 
E laços frouxos para outros. 
 
Até quando seguiremos essa realidade? 
Até quando votaremos dessa forma? 
O pior analfabeto - já dizia o sábio pensador - 
É o analfabeto político 
Que não distingue as suas escolhas 
E não sabe que uma escolha mal feita 
Acarretará enormes prejuízos. 
 
O analfabeto político 
Não lê os ventos da história, 
Nem escreve seu próprio futuro. 
Vive à margem da realidade, 
Enquanto outros decidem por ele 
E, no silêncio de sua omissão, 
Assina contratos que nunca leu. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 14 de março de 2025

Apenas um olhar

O coração desejava encontrar o amor 
Que pudesse fazê-lo feliz 
Que o completasse 
E dissipasse o medo da solidão. 
Na busca frenética da vida 
Pensou estar longe esse amor 
Que o fizesse esquecer 
As tristezas da vida. 
No entanto, 
Não precisou muita coisa 
Nem ultrapassar montanhas distantes 
Nem mesmo alcançar o horizonte. 
Na tarde linda de outono 
Seus olhos 
Lindos e sedutores 
Penetraram minha alma 
E revelou o seu coração. 
Apenas um olhar 
Foi necessário para mostrar 
Que minha busca havia chegado ao fim. 
Sou feliz por te encontrar 
E por te amar 
Com um amor sincero assim. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 12 de março de 2025

Sofre o velho poeta

 
Sofre o velho e gasto poeta, 
Com sua pena fraca e fria, 
Seu olhar perdeu o compasso 
Que um dia no coração lhe ardia. 
 
As rimas fogem, desconversam, 
Os versos tropeçam no chão, 
As musas que antes eram seus sonhos 
Hoje não lhe dão mais inspiração. 
 
Suas mãos, outrora firmes, 
Agora trêmulas buscam o papel, 
Mas só rabiscam abismos 
Num céu sem cor, sem pincel. 
 
A tinta seca, a alma pesa, 
O peito cansa de tanto gritar, 
E a lira, muda e indefesa, 
Recusa-se a alegremente cantar. 
 
Sofre o velho e gasto poeta, 
Mas ainda escreve, ainda insiste. 
Pois a dor que hoje o aperta 
É a prova de que ele existe. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 11 de março de 2025

O que a vida nos ensina

A vida nos ensina a cada passo, 
Com sua leveza, sua dança contumaz, 
Em cada amanhecer, a lição se faz clara, 
Mas, teimosos, ignoramos e tanto faz. 
 
Nos pequenos gestos, a brisa no rosto, 
Na calma da chuva, no silêncio do coração, 
Ela sussurra verdades que esquecemos, 
E, por orgulho, não entendemos a razão. 
 
Na simplicidade dos dias sem pressa, 
No sorriso sincero, na dor que acontece, 
Está o segredo de tudo que é real, 
Mas insistimos em buscar o que não enaltece. 
 
Aprender, talvez, não seja complicado, 
É só ouvir o coração, no silêncio do alvorecer. 
A vida nos chama com seus olhos tranquilos, 
Mas nos perdemos em caminhos no entardecer. 
 
O que ela ensina, a cada instante, 
É que a beleza está no próprio sentimento, 
Na aceitação do que é simples e sereno, 
E não na luta que traçamos no pensamento. 
 
Se parássemos para ouvir a vida, 
Perceberíamos que tudo é para se aprender, 
Mas, como insistimos em não olhar, 
O aprendizado se faz sempre no trágico viver. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 10 de março de 2025

Sentado na praça

Sentei-me na praça 
E observei as pessoas caminhar. 
No horizonte distante 
O sol se esconde atrás das nuvens 
E apresenta um lindo entardecer. 
Vejo as pessoas sentadas no calçadão 
À espera de mais uma noite de diversão. 
Um ancião solitário. 
Uma criança a correr solto ao vento. 
Um dia aquele ancião 
Correu como aquela criança. 
Um dia aquela criança 
Estará solitária como aquele ancião. 
O inverno passou. 
Não sinto mais frio. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 9 de março de 2025

O olhar dela

No brilho dos olhos dela há um mar, 
Um infinito azul que me faz sonhar. 
Não é só uma luz, é chama acesa, 
É um mundo inteiro de pura beleza. 
 
O olhar dela tem a cor do vento, 
Leve e livre como o próprio tempo. 
Quando me fita, tudo silencia, 
Como se o mundo fosse feito poesia. 
 
É no seu olhar que o sol amanhece, 
Onde a noite em mistério adormece. 
O olhar dela tem o encanto da lua cheia, 
Um céu inteiro exposto numa só epopeia. 
 
E quando sorri sem dizer nada, 
É como se a vida fosse toda encantada. 
Pois a beleza que nela mora, 
Não apenas se vê… se sente e se adora. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 8 de março de 2025

Distúrbio social

Mãos que apertam, bolsos cheios, 
Promessas vãs, discursos feios. 
O povo sofre, sonha em vão, 
Enquanto eles engordam com a corrupção. 
Vendem futuro por migalhas, 
Erguem muralhas, negam suas falhas. 
Será que um dia a voz se alça, 
E a justiça rompe com toda essa farsa? 
 
Na calada da noite, um grito ecoou, 
Mais um corpo no chão, ninguém escutou. 
O medo caminha de mãos dadas com o dia, 
Na selva de pedra, só há agonia. 
Justiça é palavra esquecida no tempo, 
Silêncio comprado com sangue e tormento. 
A vida tem preço, mas não tem valor, 
E a paz se perdeu no rastro da dor. 
 
No bolso do pobre, a mão do Estado, 
Leva o suor, o pão tão castigado. 
Prometem muito, entregam pouco, 
E o povo já não aguenta, quase louco. 
Os tributos sobem, mas nada melhora, 
A conta aperta, o tempo estoura. 
Enquanto uns nadam no mar de ouro, 
Outros se afogam sem nenhum socorro. 
 
Correm passos, gritam vozes lá fora, 
Tudo é pressa, tudo é o agora. 
O tempo some entre os dedos, 
E a vida é sintoma de medos. 
O que parece ser grande se faz raso, 
O que é belo se desmancha no acaso. 
No império do imediato, do urgente, 
Ninguém tem tempo, ninguém sente. 
 
Nos rios quase mortos, peixes ausentes, 
No ar denso, sopros e vapores ardentes. 
A terra grita, mas quem a ouve? 
O homem está cego, que já não se comove. 
Plásticos ao vento, despejados no mar, 
O lucro cresce, a vida a minguar. 
E quando o verde for só memória, 
Quem há de contar nossa história? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 7 de março de 2025

Nos fios de fogo

Uma moça ruiva, com um sol em seu olhar, 
Nos fios de fogo dança por um momento. 
Seu sorriso, como a luz da aurora, é poesia, 
E em cada passo, exala encantamento. 
 
Nos seus olhos, o mistério do universo, 
Quebrando as sombras, acende a verdade. 
Cada gesto seu é um verso em aberto, 
Onde a beleza reflete a eternidade. 
 
Seus cabelos reluzem como sol sem fim, 
A pele, alva seda que ao toque seduz, 
E o perfume doce é fragância de um jardim. 
 
Oh, ruiva de alma quente na singela aurora, 
Teu brilho faz a vida se encher de luz, 
E em ti, o amor se revela toda hora. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 6 de março de 2025

Amanhã ainda esqueço

O amor cisma no rosto 
Que amanhã ainda esqueço, 
Como sombra de um rio 
Que o sol não quer mais ver. 
Um traço bem leve, 
Um sorriso que o tempo esqueceu, 
Mas que no instante eterno 
Parece florescer. 
 
É no toque fugaz 
Que o desejo se disfarça, 
Na curva suave do olhar 
Que o amanhã se desfaz. 
A memória é vaga, 
Mas o coração insiste, 
Naquilo que não é, 
Mas que ainda, no peito, se faz. 
 
O rosto que se perde 
Na brisa da despedida, 
É um eco distante 
Que grita em silêncio profundo. 
Um amor que cisma, 
Que insiste e se contorce, 
Mas que se dissolve no tempo, 
Sem endereço no mundo. 
 
E ainda que o amanhã 
Apague essa imagem, 
Fica o vestígio no peito, 
Um resquício de ilusão. 
O amor, sempre cismático, 
Não tem mais miragem, 
E o rosto, por fim, 
Desaparece na solidão. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 5 de março de 2025

Nós temos essa noite

Que importa o amanhã, se temos o agora, 
O tempo suspenso, a vida que passa 
Sem exigir que pensemos nos minutos? 
Teus olhos acendem estrelas perdidas, 
Minhas mãos percorrem tuas curvas 
Extraindo suspiros das almas envolvidas. 
 
O mundo lá fora já não nos seduz, 
O vento sussurra promessas na cama 
Onde descobrimos segredos profundos. 
O relógio descansa, esqueceu de bater, 
A lua vigia sem nada dizer 
E eu me entrego totalmente a você. 
 
Que seja infinita, que seja envolvente, 
A febre que dança na pele da gente 
Como um fogo que queima sem parar. 
Se o sol nos alcançar, que seja em vão, 
Pois fomos eternos na escuridão 
De onde aprendemos a forma singela de amar. 
 
Então vem, sem pressa, sem medo, sem receios, 
Nós temos essa noite... quem precisa do amanhã? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 4 de março de 2025

Se a vida é efêmera

 A vida é um sussurro do infinito 
Em meio ao silêncio do tempo. 
Somos poeira de estrelas 
Dançando ao vento do acaso, 
Fiapos de luz costurando histórias 
Em um tecido de incertezas. 
 
Existimos entre o nascer e o pôr do sol, 
Entre o riso e a lágrima, 
Entre o toque e a saudade. 
Somos a soma dos instantes que nos atravessam, 
Dos amores que nos moldam, 
Dos sonhos que nos sustentam. 
 
Se a vida é efêmera, 
Que sejamos eternos 
Na intensidade com que a vivemos. 
Que sejamos rios 
Fluindo para o oceano do desconhecido, 
Folhas caindo ao vento
Para renascer na primavera do universo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense