domingo, 9 de março de 2025

O olhar dela

No brilho dos olhos dela há um mar, 
Um infinito azul que me faz sonhar. 
Não é só uma luz, é chama acesa, 
É um mundo inteiro de pura beleza. 
 
O olhar dela tem a cor do vento, 
Leve e livre como o próprio tempo. 
Quando me fita, tudo silencia, 
Como se o mundo fosse feito poesia. 
 
É no seu olhar que o sol amanhece, 
Onde a noite em mistério adormece. 
O olhar dela tem o encanto da lua cheia, 
Um céu inteiro exposto numa só epopeia. 
 
E quando sorri sem dizer nada, 
É como se a vida fosse toda encantada. 
Pois a beleza que nela mora, 
Não apenas se vê… se sente e se adora. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 8 de março de 2025

Distúrbio social

Mãos que apertam, bolsos cheios, 
Promessas vãs, discursos feios. 
O povo sofre, sonha em vão, 
Enquanto eles engordam com a corrupção. 
Vendem futuro por migalhas, 
Erguem muralhas, negam suas falhas. 
Será que um dia a voz se alça, 
E a justiça rompe com toda essa farsa? 
 
Na calada da noite, um grito ecoou, 
Mais um corpo no chão, ninguém escutou. 
O medo caminha de mãos dadas com o dia, 
Na selva de pedra, só há agonia. 
Justiça é palavra esquecida no tempo, 
Silêncio comprado com sangue e tormento. 
A vida tem preço, mas não tem valor, 
E a paz se perdeu no rastro da dor. 
 
No bolso do pobre, a mão do Estado, 
Leva o suor, o pão tão castigado. 
Prometem muito, entregam pouco, 
E o povo já não aguenta, quase louco. 
Os tributos sobem, mas nada melhora, 
A conta aperta, o tempo estoura. 
Enquanto uns nadam no mar de ouro, 
Outros se afogam sem nenhum socorro. 
 
Correm passos, gritam vozes lá fora, 
Tudo é pressa, tudo é o agora. 
O tempo some entre os dedos, 
E a vida é sintoma de medos. 
O que parece ser grande se faz raso, 
O que é belo se desmancha no acaso. 
No império do imediato, do urgente, 
Ninguém tem tempo, ninguém sente. 
 
Nos rios quase mortos, peixes ausentes, 
No ar denso, sopros e vapores ardentes. 
A terra grita, mas quem a ouve? 
O homem está cego, que já não se comove. 
Plásticos ao vento, despejados no mar, 
O lucro cresce, a vida a minguar. 
E quando o verde for só memória, 
Quem há de contar nossa história? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 7 de março de 2025

Nos fios de fogo

Uma moça ruiva, com um sol em seu olhar, 
Nos fios de fogo dança por um momento. 
Seu sorriso, como a luz da aurora, é poesia, 
E em cada passo, exala encantamento. 
 
Nos seus olhos, o mistério do universo, 
Quebrando as sombras, acende a verdade. 
Cada gesto seu é um verso em aberto, 
Onde a beleza reflete a eternidade. 
 
Seus cabelos reluzem como sol sem fim, 
A pele, alva seda que ao toque seduz, 
E o perfume doce é fragância de um jardim. 
 
Oh, ruiva de alma quente na singela aurora, 
Teu brilho faz a vida se encher de luz, 
E em ti, o amor se revela toda hora. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 6 de março de 2025

Amanhã ainda esqueço

O amor cisma no rosto 
Que amanhã ainda esqueço, 
Como sombra de um rio 
Que o sol não quer mais ver. 
Um traço bem leve, 
Um sorriso que o tempo esqueceu, 
Mas que no instante eterno 
Parece florescer. 
 
É no toque fugaz 
Que o desejo se disfarça, 
Na curva suave do olhar 
Que o amanhã se desfaz. 
A memória é vaga, 
Mas o coração insiste, 
Naquilo que não é, 
Mas que ainda, no peito, se faz. 
 
O rosto que se perde 
Na brisa da despedida, 
É um eco distante 
Que grita em silêncio profundo. 
Um amor que cisma, 
Que insiste e se contorce, 
Mas que se dissolve no tempo, 
Sem endereço no mundo. 
 
E ainda que o amanhã 
Apague essa imagem, 
Fica o vestígio no peito, 
Um resquício de ilusão. 
O amor, sempre cismático, 
Não tem mais miragem, 
E o rosto, por fim, 
Desaparece na solidão. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 5 de março de 2025

Nós temos essa noite

Que importa o amanhã, se temos o agora, 
O tempo suspenso, a vida que passa 
Sem exigir que pensemos nos minutos? 
Teus olhos acendem estrelas perdidas, 
Minhas mãos percorrem tuas curvas 
Extraindo suspiros das almas envolvidas. 
 
O mundo lá fora já não nos seduz, 
O vento sussurra promessas na cama 
Onde descobrimos segredos profundos. 
O relógio descansa, esqueceu de bater, 
A lua vigia sem nada dizer 
E eu me entrego totalmente a você. 
 
Que seja infinita, que seja envolvente, 
A febre que dança na pele da gente 
Como um fogo que queima sem parar. 
Se o sol nos alcançar, que seja em vão, 
Pois fomos eternos na escuridão 
De onde aprendemos a forma singela de amar. 
 
Então vem, sem pressa, sem medo, sem receios, 
Nós temos essa noite... quem precisa do amanhã? 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 4 de março de 2025

Se a vida é efêmera

 A vida é um sussurro do infinito 
Em meio ao silêncio do tempo. 
Somos poeira de estrelas 
Dançando ao vento do acaso, 
Fiapos de luz costurando histórias 
Em um tecido de incertezas. 
 
Existimos entre o nascer e o pôr do sol, 
Entre o riso e a lágrima, 
Entre o toque e a saudade. 
Somos a soma dos instantes que nos atravessam, 
Dos amores que nos moldam, 
Dos sonhos que nos sustentam. 
 
Se a vida é efêmera, 
Que sejamos eternos 
Na intensidade com que a vivemos. 
Que sejamos rios 
Fluindo para o oceano do desconhecido, 
Folhas caindo ao vento
Para renascer na primavera do universo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Havia coisas que eu deveria ter dito

Havia palavras que moravam no coração, 
Mas nunca ousaram sair. 
Medo, orgulho ou tempo errado, 
Não sei dizer, só sei sentir. 
 
Eu deveria ter dito "fica", 
Quando vi você partir. 
Ter sussurrado um "eu te amo", 
Antes de te ver sumir. 
 
Havia promessas guardadas, 
Que o silêncio fez ruir. 
Tantas frases aprisionadas, 
Tantos gestos por cumprir. 
 
Se eu pudesse voltar no tempo, 
Desfazer cada omissão, 
Diria tudo o que não disse, sem receio, 
Com a voz do coração. 
 
Mas palavras não ditas pesam, 
Como sombra sobre o peito ferido. 
E hoje só restam os ecos, 
Do que sempre foi, no peito, sentido. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 3 de março de 2025

Quando um coração solitário se quebra

No silêncio de um quarto vazio, 
Ecoam memórias de um tempo fugaz. 
O vento sussurra um nome tardio, 
Mas ninguém responde — ninguém mais. 
 
Os dias desfilam em sombras pálidas, 
Frágeis como vidro prestes a ruir. 
O peito aperta, as noites são cálidas, 
Mas dentro, só há frio a existir. 
 
As promessas, outrora tão belas, 
Hoje são cinzas levadas ao chão. 
E o coração, que pulsava sob as estrelas, 
Se perde em ecos de escuridão. 
 
Quebra-se enfim, sem som, sem alarde, 
Como um suspiro que o tempo desfaz. 
Pois nada mais resta, só a saudade, 
E um coração que já não bate mais. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 2 de março de 2025

Não és mais inspiração

Você já não inspira esse poeta sonhador, 
Suas palavras, antes nuvens, já não têm cor. 
O verso que dançava ao toque do seu olhar, 
Hoje é silêncio que não mais quer rimar. 
 
As rimas que antes fluíam tão livres, 
Agora se perdem em ecos frágeis e tristes. 
O encanto partiu sem deixar um adeus, 
Levando consigo todos os sonhos meus. 
 
Já não há estrelas guiando o poema, 
Nem brisa suave soprando o dilema. 
O encanto morreu sem sequer hesitar, 
Deixando no peito um imenso vazio no lugar. 
 
Se outrora foste musa, um lume, um calor, 
Hoje és lembrança sem rastro, sem cor. 
Você já não inspira esse poeta sonhador, 
Que escreve sem alma, sem rima, sem amor. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 1 de março de 2025

Selvagem imaginação

Os herdeiros dos tormentos clandestinos 
Gritam rock’n’roll nas ruas 
E declamam segredos para ouvidos surdos 
Onde os pássaros são silenciados 
E tapetes peçonhentos voam do chão 
Carregando criaturas que se deitam 
Tentando esconder dos olhares humanos. 
 
A voz dos que perderam alguém se cala 
E se escondem nos ares do esquecimento 
Pessoas andam vagando como perdidas 
Nas ruas de ilusões fantasmagóricas 
E sangue dos anciões são derramados 
Diante dos calafrios iminentes 
De todos os que não sabem o que é viver. 
 
Existem certos temores noturnos 
Ecoado nos corações humanos 
Que não temos condições de revelar 
São mistérios escondidos secretamente 
Há milhares e milhares de anos 
Desde quando andavam em pequenos bandos 
Procurando abrigos nas cavernas. 
 
 Para pesadelo dos artistas 
Existiam os demônios da criação 
Que perturbavam o horror da imaginação 
Mesmo quando podiam ouvir o silêncio 
No colorido do céu infinito 
Antes do sol se esconder definitivamente 
Por detrás das montanhas distantes. 
 
Sem saber o que era criação ou paranoia 
A imaginação deles era selvagem 
Como são selvagens a fúria e a indolência 
Dos que caminham na escuridão 
E não sabem até onde podem aguentar 
O barulho das máquinas e luzes de neon 
Que moldaram a sociedade contemporânea. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense