segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Digo que é o vento

 Às vezes a noite é tão grande 
 Que parece caber dentro de mim. 
E no escuro do meu peito, 
O teu nome brilha como janela acesa 
Em casa abandonada, 
Uma luz que não devolve ninguém, 
Mas insiste em ficar acesa. 
 
As horas vazias são mares sem lua. 
Eu navego nelas com as mãos frias 
E o coração tateando sombras, 
Procurando o teu rastro 
Como quem busca água 
Num deserto que já sabe o fim. 
 
Penso em você como quem segura um objeto frágil: 
Com cuidado, com medo, com vício. 
E cada lembrança tua 
É uma porta abrindo sozinha no corredor, 
Lembrando-me que a casa é minha, 
Mas o silêncio é teu. 
 
Há noites em que o mundo inteiro dorme, 
Menos a saudade. 
Ela vigia, ela respira, ela caminha pelos cantos, 
Sussurrando teu nome 
Como se fosse um feitiço 
Que me mantém acordado. 
 
Se alguém me perguntar por que não durmo, 
Digo que é o vento. 
Mas é mentira. 
É você soprando dentro de tudo que me falta. 
 
A verdade é simples e cruel: 
As noites são vazias, 
Mas eu não. 
Eu transbordo, 
De você, do que não foi dito, 
Do que ainda queima nas entrelinhas. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense