Não pelo fato,
Mas pela mão que a moldou.
A verdade, cansada,
Aprendeu a vestir fantasias:
Às vezes grita o que não aconteceu,
Às vezes silencia o que sangra.
Entre manchetes e telas brilhantes,
Há sacanagens bem vestidas de urgência,
Frases torcidas como espelhos rachados,
Onde cada um vê apenas o que quer ver.
A mentira não vem mais nua,
Ela traz dados, gráficos, especialistas,
Um selo de “fonte confiável”
Colado sobre o vazio.
E o leitor, faminto de sentido,
Engole versões,
Divide indignações,
Repete verdades fabricadas
Como quem reza sem fé.
No fim, resta o cansaço:
Não por saber demais,
Mas por nunca tocar o real.
Talvez a resistência seja simples e dura:
Desconfiar do grito fácil,
Ouvir o silêncio entre as palavras,
E lembrar que a verdade
Não costuma pedir aplauso,
Ela apenas permanece.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:
Postar um comentário