segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

Verdades fabricadas

 Há dias em que a notícia chega já ferida, 
Não pelo fato, 
Mas pela mão que a moldou. 
 
A verdade, cansada, 
Aprendeu a vestir fantasias: 
Às vezes grita o que não aconteceu, 
Às vezes silencia o que sangra. 
 
Entre manchetes e telas brilhantes, 
Há sacanagens bem vestidas de urgência, 
Frases torcidas como espelhos rachados, 
Onde cada um vê apenas o que quer ver. 
 
A mentira não vem mais nua, 
Ela traz dados, gráficos, especialistas, 
Um selo de “fonte confiável” 
Colado sobre o vazio. 
 
E o leitor, faminto de sentido, 
Engole versões, 
Divide indignações, 
Repete verdades fabricadas 
Como quem reza sem fé. 
 
No fim, resta o cansaço: 
Não por saber demais, 
Mas por nunca tocar o real. 
 
Talvez a resistência seja simples e dura: 
Desconfiar do grito fácil, 
Ouvir o silêncio entre as palavras, 
E lembrar que a verdade 
Não costuma pedir aplauso, 
Ela apenas permanece. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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