Fui esculpido pelas ausências,
Mais do que pelas presenças.
Cresci nas frestas do silêncio,
Onde ninguém ousava olhar.
Sou feito de quedas que não viraram fim,
Mas recomeço com cicatriz.
Cada dor me desenhou a mão firme,
Cada perda, o olhar mais fundo.
Carrego os nomes que calei,
As vontades que engoli a seco,
Os amores que me atravessaram
Como ventos, sem ficar.
Fui construído com palavras não ditas,
Com esperas que se fizeram rotina.
Cada escolha que me negaram
Me ensinou a escolher a mim.
O tempo me dobrou com cuidado
Ou com fúria — depende do dia.
Mas não me partiu.
Sou dobradura viva:
Simples na forma, complexo na origem.
Sou o que restou depois das guerras,
O que floresceu mesmo sem primavera.
E talvez, por isso, haja em mim
Essa beleza triste
De quem aprendeu a ser
Sem depender do mundo.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Nenhum comentário:
Postar um comentário