Desigualdades
São como rachaduras no chão por onde caminhamos:
Alguns andam descalços sobre pedras afiadas,
Outros deslizam com sapatos de seda.
As desigualdades nos atravessam como ventos frios,
Uns se abrigam em palácios,
Outros se encolhem sob a ponte.
No cotidiano, o pão falta em uma mesa,
Enquanto sobra e se perde em outra.
As lágrimas de uns viram silêncio,
As dores de outros
Se escondem atrás de cortinas de luxo.
A vida sofrida caminha ao lado da pressa,
Vende doces no sinal fechado,
Carrega tijolos que nunca serão sua casa,
Enquanto olhos distraídos fingem não ver.
O cotidiano é um palco de contrastes:
Risos de cristal soam em salões iluminados,
Ao mesmo tempo em que choros abafados
Ecoam em quartos escuros sem janela.
A vida sofrida pulsa nos becos,
Nas mãos calejadas que carregam o peso do mundo,
Nos olhos que sonham com um amanhã menos árido.
E ainda assim, no meio do peso,
Nasce uma teimosia de esperança:
A criança que desenha o sol no caderno gasto,
A mulher que inventa beleza com pouco,
O homem que partilha o pão escasso.
Apesar do fardo,
Há quem floresça na margem:
Um sorriso que resiste,
Um gesto de partilha,
Um sopro de esperança que insiste
Em dizer que a vida pode ser justa,
Mesmo quando o mundo não é.
A dor é real, mas também o sonho.
E é nele que se acende a chama
De um amanhã que insiste em chegar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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