quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Sobre as desigualdades

Desigualdades 
São como rachaduras no chão por onde caminhamos: 
Alguns andam descalços sobre pedras afiadas, 
Outros deslizam com sapatos de seda. 
As desigualdades nos atravessam como ventos frios, 
Uns se abrigam em palácios, 
Outros se encolhem sob a ponte. 
 
No cotidiano, o pão falta em uma mesa, 
Enquanto sobra e se perde em outra. 
As lágrimas de uns viram silêncio, 
As dores de outros 
Se escondem atrás de cortinas de luxo. 
A vida sofrida caminha ao lado da pressa, 
Vende doces no sinal fechado, 
Carrega tijolos que nunca serão sua casa, 
Enquanto olhos distraídos fingem não ver. 
 
O cotidiano é um palco de contrastes: 
Risos de cristal soam em salões iluminados, 
Ao mesmo tempo em que choros abafados 
Ecoam em quartos escuros sem janela. 
A vida sofrida pulsa nos becos, 
Nas mãos calejadas que carregam o peso do mundo, 
Nos olhos que sonham com um amanhã menos árido. 
 
E ainda assim, no meio do peso, 
Nasce uma teimosia de esperança: 
A criança que desenha o sol no caderno gasto, 
A mulher que inventa beleza com pouco, 
O homem que partilha o pão escasso. 
 
Apesar do fardo, 
Há quem floresça na margem: 
Um sorriso que resiste, 
Um gesto de partilha, 
Um sopro de esperança que insiste 
Em dizer que a vida pode ser justa, 
Mesmo quando o mundo não é. 
 
A dor é real, mas também o sonho. 
E é nele que se acende a chama 
De um amanhã que insiste em chegar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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