E dele saíram homens cobertos de sal e ferrugem,
Com o olhar afiado como lâmina.
Nós éramos a terra — eles, a fome.
Os seus passos esmagavam folhas
Como se quisessem calar a floresta.
Nossos olhos seguiam,
Mas a floresta não se calava.
Cheiravam a fumaça e ferro,
E traziam no corpo a cor do pó
Que não nasce daqui.
O vento, antes livre, aprendeu a temer.
Eles não vinham apenas com armas,
Vinham com a certeza de que tudo tinha dono,
E que o dono falava na língua deles.
O ouro não brilhava para nós,
Mas para eles era como sol engaiolado.
E não há bicho mais perigoso
Do que o homem que deseja prender o sol.
Trouxeram suas cruzes para plantar no chão,
Mas cada cruz era também um muro
Levantado entre os nossos sonhos
E o dia seguinte.
Os barcos voltaram ao mar,
Mas deixaram um rastro que não se apaga,
Um sabor de sangue misturado à seiva,
Um silêncio
Que aprendeu a gritar dentro da terra.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Nenhum comentário:
Postar um comentário