sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Quando aqui chegaram

 O mar abriu-se como uma ferida, 
E dele saíram homens cobertos de sal e ferrugem, 
Com o olhar afiado como lâmina. 
Nós éramos a terra — eles, a fome. 
 
Os seus passos esmagavam folhas 
Como se quisessem calar a floresta. 
Nossos olhos seguiam, 
Mas a floresta não se calava. 
 
Cheiravam a fumaça e ferro, 
E traziam no corpo a cor do pó 
Que não nasce daqui. 
O vento, antes livre, aprendeu a temer. 
 
Eles não vinham apenas com armas, 
Vinham com a certeza de que tudo tinha dono, 
E que o dono falava na língua deles. 
 
O ouro não brilhava para nós, 
Mas para eles era como sol engaiolado. 
E não há bicho mais perigoso 
Do que o homem que deseja prender o sol. 
 
Trouxeram suas cruzes para plantar no chão, 
Mas cada cruz era também um muro 
Levantado entre os nossos sonhos 
E o dia seguinte. 
 
Os barcos voltaram ao mar, 
Mas deixaram um rastro que não se apaga,
Um sabor de sangue misturado à seiva, 
Um silêncio 
Que aprendeu a gritar dentro da terra. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário