Escrever é costurar a pele invisível das emoções para que elas não se percam no vento.
O que não escrevo apodrece dentro; o que escrevo floresce fora.
Sinto como quem mergulha e escrevo como quem retorna com as mãos cheias de água — e um pouco de céu refletido.
A tinta é só um pretexto: o que corre na caneta é sangue que decidiu não gritar.
Quando sinto demais, escrevo para não transbordar.
Quando sinto de menos, escrevo para me encontrar.
Palavras não me salvam, mas me mantêm respirando.
Escrevo não para explicar o que sinto, mas para dar ao sentimento um corpo onde ele possa morar sem me ferir.
Escrever é sangrar em silêncio, é deixar que a dor escorra sem que o mundo perceba.
O que não escrevo apodrece no fundo da alma, criando raízes escuras que me puxam para baixo.
Sinto como quem afunda e escrevo como quem respira pela última fenda de luz.
A tinta não é tinta: é um veneno lento que, ao ser derramado no papel, me cura.
Quando sinto demais, escrevo para não ser engolido.
Quando sinto de menos, escrevo para lembrar que ainda existo.
As palavras são ossos que retiro de mim para reconstruir um corpo que já não reconheço.
Escrevo para dar forma ao vazio, para que ele não me consuma por inteiro.
Minhas palavras são pétalas que cortam, perfumes que sufocam.
Escrevo como quem acaricia uma ferida — não para curá-la, mas para ouvir o que ela tem a dizer.
Há um tipo de beleza que só nasce do que está prestes a ruir,
E é nessa beira de abismo que encontro minha voz.
Cada frase é um sopro sobre brasas frias, tentando reacender algo que não sei se quero ver arder.
Quando escrevo, o silêncio perde sua autoridade.
Quando não escrevo, as sombras decidem por mim.
Meu papel é um espelho rachado: nele, reflito o que sinto,
Mas também o que temo demais para sentir.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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