domingo, 31 de agosto de 2025

O que é o amor hoje?

 Me apaixono por você todos os dias, 
Como quem reencontra um poema antigo 
E percebe que nunca o leu direito. 
 
O amor por você não é um relâmpago, 
É o sol que insiste — mesmo em dias nublados. 
E todo amanhecer é um recomeço: 
Te descubro de novo, 
Como se a noite tivesse te reinventado. 
 
Você é a mesma, 
Mas meus olhos mudam. 
E é por isso que te amo de formas inéditas, 
Com memórias recém-nascidas. 
 
Amar você diariamente 
É como beber da mesma taça, 
Mas o vinho nunca tem o mesmo gosto. 
A safra do sentimento amadurece em silêncio. 
 
Cada vez que olho para você, 
Uma versão nova de mim 
Se inclina para dizer: 
"Então é isso que é o amor hoje?" 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 30 de agosto de 2025

A beleza da poesia

 A poesia é o sopro invisível que acaricia a alma, 
Um espelho delicado 
Onde nossos silêncios se reconhecem. 
 
Ela é ponte entre o indizível e o vivido, 
Guarda-chuva contra a chuva das dores, 
Sol nascente nos dias em que a esperança parece se pôr. 
 
Na poesia, a alma encontra refúgio e voo, 
Raízes e asas, 
Luz e sombra entrelaçadas em ritmo. 
 
É a beleza que não precisa ser compreendida, 
Basta ser sentida. 
 
Porque quando as palavras dançam como vento na pele, 
A alma descansa e se renova, 
Sabendo que a beleza da vida está também 
Naquilo que nunca conseguimos dizer por inteiro. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

As maravilhas do mundo moderno

 O homem levantou torres de vidro, 
Que tocam o céu com dedos de aço, 
E nelas acendeu constelações elétricas 
Para não esquecer que ainda sonha. 
 
Inventou caminhos invisíveis, 
Feitos de ondas que atravessam o ar, 
Para que vozes viajassem mais rápido 
Que os próprios ventos. 
 
Domou a distância com trilhos e asas, 
Riscando mapas que não cabem na pele da Terra, 
E lançou foguetes para além da noite, 
Como quem pede respostas às estrelas. 
 
Prolongou a vida com ciência, 
Costurou feridas com luz e bisturi, 
Mas ainda busca no silêncio dos corredores 
A cura para a solidão. 
 
E mesmo entre máquinas que pensam, 
Olhos que veem o invisível, 
Mãos que constroem o impossível, 
Há uma maravilha maior: 
A poesia que insiste em lembrar 
Que somos humanos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Última Confissão

Se você estiver lendo isso… 
É porque eu finalmente parei de lutar. 
Cansei. 
Cansei de fingir que posso te esquecer, 
Que posso caminhar para longe de você 
Sem carregar o gosto do seu nome preso na garganta. 
 
Passei noites inteiras com os olhos abertos, 
Te desenhando nas paredes da minha mente, 
Tentando arrancar cada pedaço seu 
Que ficou cravado em mim 
Como ferrugem nas costelas. 
 
Mas quanto mais eu lutava, 
Mais fundo você entrava. 
Como se fosse feito de raízes, 
Me sufocando de dentro pra fora. 
 
A verdade é que eu não te amo 
Como as pessoas amam nas músicas. 
Não tem beleza nisso. 
Tem desespero. 
Tem febre. 
Tem essa maldita sensação de vertigem, 
Como se o chão abrisse 
Toda vez que eu lembrasse do som da sua voz. 
 
Então hoje… 
Eu desisto. 
Desisto de fingir que sou forte, 
Que sou inteiro, 
Que sou qualquer coisa além de alguém arruinado por você. 
 
Se houver alguma justiça nesse mundo, 
Depois de tudo isso, 
O universo vai me conceder o direito de te esquecer. 
Nem que seja por um minuto. 
Um minuto de paz… 
Antes de tudo recomeçar. 
 
Adeus. 
Ou pelo menos… a tentativa de um adeus. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

O brado no Ipiranga

Independência não foi um grito apenas, 
Foi um rio que se recusou a ser lago, 
Uma seiva que rompeu o tronco seco 
Para florir em outra direção. 
 
Ser independente é carregar cicatrizes, 
Pois a liberdade nunca chega sem dor. 
O Brasil nasceu entre correntes quebradas 
E sonhos ainda acorrentados. 
 
O Ipiranga ecoa até hoje, 
Não no brado de um príncipe, 
Mas no murmúrio do povo 
Que ainda aprende a dizer "somos". 
 
Independência é mais que fronteira, 
É a coragem de existir com voz própria, 
Mesmo quando essa voz treme, 
Mesmo quando o silêncio pesa. 
 
O Brasil não se fez livre de um só golpe, 
Mas de cada gesto, cada memória, 
De cada mão que se ergueu 
Para escrever sua história 
Com sangue, suor e esperança. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Delírio

Meu corpo te chama 
Mesmo quando minha mente suplica por trégua. 
Você é o calor nas minhas veias, 
O enjoo no fundo do estômago, 
O suor frio que escorre pela nuca 
Quando tento pensar em qualquer coisa que não seja você. 
 
Minhas mãos tremem, 
Meus dentes rangem durante a noite, 
Meus olhos ardem de tanto te imaginar 
Quando fecho as pálpebras, 
Como se fosse possível te apagar assim. 
Não é. 
 
Você está nas paredes, 
No teto, 
Na sombra do meu próprio reflexo. 
Sua ausência é um grito constante dentro da minha cabeça, 
E sua lembrança… 
É uma lâmina arranhando a parte de dentro do meu peito. 
 
Já não como. 
Já não durmo. 
Meu corpo queima em febres que não têm cura. 
Chamo o seu nome com a voz rouca de tanto falar. 
 
E mesmo sabendo que isso me mata aos poucos, 
Eu continuo. 
Eu rastejo até você, 
Feito um animal ferido, 
Com fome, com medo, 
Com desejo. 
 
Amar você… 
É a pior doença que já me aconteceu. 
E, ainda assim, 
Se um dia eu me curar, 
Sei que vou implorar por recaída. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Um fio estendido no vento

 A existência é um fio estendido no vento: 
Frágil e, ao mesmo tempo, resistente. 
Cada um de nós caminha sobre ele, 
Como viajantes de um destino 
Que se constrói passo a passo. 
 
Há dias em que a vida parece um enigma 
Uma pergunta sem resposta clara. 
Outros dias, ela se revela no gesto simples: 
O sorriso inesperado, 
A mão que se estende, 
O silêncio que acolhe. 
 
O sentido da vida 
Talvez não esteja em grandes revelações, 
Mas no modo como tocamos o mundo 
E deixamos o mundo nos tocar. 
Não é tanto chegar ao fim do caminho, 
Mas sentir a terra sob os pés, 
Respirar o instante 
E compreender que cada momento já é um milagre. 
 
Viver é um constante nascer 
E morrer dentro de nós mesmos: 
Morrem os medos, nascem as esperanças, 
Morrem as certezas, nascem as perguntas, 
E nesse ciclo aprendemos a ser mais humanos. 
 
No fim, 
A jornada não é sobre encontrar uma resposta, 
Mas sobre tornar-se resposta para alguém, 
Sobre deixar rastros de ternura, 
Sobre compreender 
Que o infinito habita dentro de nós. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 24 de agosto de 2025

Minha alma se curva

 É um querer que arde por dentro, 
Um chamado da pele à tua pele, 
Da boca à tua boca, 
Da sede à tua fonte. 
 
Deliciar-me em teus carinhos 
É naufragar sem medo, 
É ceder ao abismo de teus lábios, 
É perder-me no labirinto úmido 
Que tua pele me oferece. 
 
Teus toques são lâminas quentes 
Rasgando o véu da razão, 
E em cada gesto teu 
Minha carne se acende, 
Minha alma se curva. 
 
Não peço ternura, 
Exijo intensidade: 
Quero que teus carinhos 
Me devorem, 
Me sufoquem, 
Me façam renascer 
Num corpo que só existe 
Quando é tocado pelo teu. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 23 de agosto de 2025

Recusa

 Uma noite eu sonhei com você, 
E no sonho havia ternura, 
Havia o impossível transformado em gesto, 
Havia nós dois sem medo algum. 
 
Mas despertei, 
E a realidade me cortou como lâmina fria. 
Você não quis viver comigo o que sonhei, 
Preferiu esconder-se nas paredes da distância. 
 
A perda então ganhou um nome: 
Não foi morte, 
Não foi partida, 
Foi recusa. 
 
E não há dor maior 
Do que desejar o infinito com alguém 
Que não quis nem sequer 
O começo. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Um dia eu quis você

 Um dia eu quis você, 
Mas o silêncio foi maior que o gesto. 
Havia em seus olhos um esconderijo, 
Uma porta fechada para o meu abraço. 
 
O sentimento de perda não é ausência, 
É presença que nunca se cumpriu, 
É o eco de um encontro que não aconteceu, 
É a sombra de um toque que ficou suspenso no ar. 
 
Perder não é deixar de ter, 
É carregar a ausência como se fosse peso, 
É caminhar com a lembrança 
De algo que nunca chegou a nascer. 
 
Um dia eu quis você, 
E o tempo me mostrou 
Que há dores que não sangram, 
Mas permanecem em silêncio, 
Como cartas que nunca foram abertas. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Sob a pele

É como respirar vidro. 
Como engolir água escura 
E sentir os pulmões queimando, 
Implorando por ar 
Enquanto o seu nome pesa no meu peito 
Feito pedra. 
 
Meu corpo treme. 
A pele arde como se você estivesse por dentro, 
Rasgando cada nervo, 
Cada pedaço que eu tentei proteger de você. 
 
Minhas mãos suam, 
Minha boca seca, 
Minha cabeça gira 
Como se o chão tivesse desaparecido. 
E ainda assim… 
Eu te procuro. 
No meio do caos, no meio da falta de ar, 
Eu te procuro. 
 
Você é a febre que não passa, 
A vertigem que me derruba, 
O veneno que eu bebo sabendo o fim. 
 
Já tentei correr, 
Já tentei me esconder em outros corpos, 
Outros abraços, 
Outros cheiros. 
 
Inútil. 
Tudo em mim grita o seu nome. 
 
Amar você não é um ato de escolha. 
É um colapso inevitável. 
É a falha final do meu instinto de sobrevivência. 
 
E mesmo com o coração estilhaçado, 
Mesmo sabendo que estou afundando, 
Eu abro os braços para te receber. 
 
Porque no fim, 
A dor de te querer 
É menos insuportável 
Do que a ideia de te perder. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Sobre as desigualdades

Desigualdades 
São como rachaduras no chão por onde caminhamos: 
Alguns andam descalços sobre pedras afiadas, 
Outros deslizam com sapatos de seda. 
As desigualdades nos atravessam como ventos frios, 
Uns se abrigam em palácios, 
Outros se encolhem sob a ponte. 
 
No cotidiano, o pão falta em uma mesa, 
Enquanto sobra e se perde em outra. 
As lágrimas de uns viram silêncio, 
As dores de outros 
Se escondem atrás de cortinas de luxo. 
A vida sofrida caminha ao lado da pressa, 
Vende doces no sinal fechado, 
Carrega tijolos que nunca serão sua casa, 
Enquanto olhos distraídos fingem não ver. 
 
O cotidiano é um palco de contrastes: 
Risos de cristal soam em salões iluminados, 
Ao mesmo tempo em que choros abafados 
Ecoam em quartos escuros sem janela. 
A vida sofrida pulsa nos becos, 
Nas mãos calejadas que carregam o peso do mundo, 
Nos olhos que sonham com um amanhã menos árido. 
 
E ainda assim, no meio do peso, 
Nasce uma teimosia de esperança: 
A criança que desenha o sol no caderno gasto, 
A mulher que inventa beleza com pouco, 
O homem que partilha o pão escasso. 
 
Apesar do fardo, 
Há quem floresça na margem: 
Um sorriso que resiste, 
Um gesto de partilha, 
Um sopro de esperança que insiste 
Em dizer que a vida pode ser justa, 
Mesmo quando o mundo não é. 
 
A dor é real, mas também o sonho. 
E é nele que se acende a chama 
De um amanhã que insiste em chegar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Inescapável

Eu jurei que não. 
Gritei para dentro de mim 
Mil vezes: NÃO! 
 
Fechei os olhos, 
Arranquei seus rastros dos meus pensamentos, 
Rasguei lembranças, 
Afoguei vontades. 
 
Mas você… 
Você continuava ali. 
Na curva da minha respiração, 
No intervalo entre um batimento e outro, 
Na parte mais escura dos meus sonhos. 
 
Quanto mais eu lutava, 
Mais você crescia em mim 
Feito febre, 
Feito praga, 
Feito tudo aquilo que destrói devagar. 
 
E agora estou aqui, 
Esgotado, vencido, 
Com as mãos tremendo de tanto resistir. 
Amar você não é uma escolha, 
É um incêndio que me consome inteiro 
Enquanto eu grito, 
Sabendo que ninguém vai me ouvir. 
 
Porque no fundo… 
Talvez eu nunca quisesse fugir de verdade. 
Talvez eu sempre soubesse 
Que esse amor é a minha perdição. 
E mesmo assim… 
Eu corro para ela. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Apenas a sua atenção

Escrevo como quem sussurra, 
Porque tenho medo 
De que minhas palavras 
Se percam no mesmo lugar 
Onde se perde sua atenção. 
 
Quando estou com você, 
Quero que o mundo pare, 
Quero que o barulho se dissolva, 
Quero que nada exista 
Além do instante em que nos olhamos. 
 
Mas às vezes sinto que não me vê inteiro, 
Como se eu fosse apenas sombra 
Ou detalhe de fundo em um quadro 
Que não lhe prende os olhos. 
 
E é nesse silêncio invisível 
Que eu me descubro querendo mais, 
Querendo que sua presença me alcance, 
Que sua atenção repouse em mim 
Como se eu fosse o único lugar 
Onde você gostaria de estar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

Condenação

 Não tive escolha. 
Amar você foi como afundar num rio escuro, 
Onde cada tentativa de fuga 
Só me arrastava mais para o fundo. 
 
Não foi um encontro, 
Foi um acidente, 
Uma colisão de mundos 
Que nunca deveriam ter se tocado. 
 
Você veio como febre, 
Como veneno lento, 
Como um sussurro que atravessa a madrugada 
E não me deixa dormir. 
 
Tentei negar, 
Escondi seu nome embaixo da língua, 
Mas até o silêncio me traía. 
Tudo em mim apontava para você: 
Os olhos, os passos, a dor. 
 
Amar você é uma sentença. 
Uma maldição que visto como segunda pele, 
Um labirinto sem saída, 
Onde cada porta leva de volta ao mesmo abismo: 
O de te querer... 
Contra a minha vontade, 
Contra o mundo, 
Contra mim. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 17 de agosto de 2025

O coração de uma mulher

 O coração de uma mulher 
É uma casa de muitas janelas, 
Algumas abertas ao vento, 
Outras cerradas pelo silêncio. 
 
Nele cabem segredos como pedras no fundo do rio: 
Pesam, mas também brilham quando tocados pela luz. 
 
Há lembranças guardadas como cartas nunca enviadas, 
Há feridas escondidas sob véus de sorriso, 
Há sonhos que se fingem adormecidos 
Para não se despedaçarem no mundo. 
 
Quantos segredos cabem em um coração assim? 
Talvez todos os do universo, 
Pois cada batida é um sussurro não dito, 
Cada suspiro é um mistério que não se revela, 
Cada lágrima é um segredo que escapa sem nome. 
 
O coração de uma mulher não se mede em números, 
Mas em silêncios, 
Em olhares que dizem mais que palavras, 
Em histórias que ninguém ouvirá por inteiro. 
 
E talvez a beleza esteja justamente nisso: 
Em saber que sempre haverá algo escondido, 
Um jardim secreto que floresce só para ela mesma. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

As incertezas que me torturam

 Há dias em que seu nome é um eco doce 
Que se perde dentro de mim 
Como uma lembrança que nunca aconteceu. 
 
Outros, é apenas silêncio, 
E me pergunto se tudo não passa 
De um cenário inventado pelo tédio, 
Ou pela minha necessidade de sentir. 
 
Talvez eu não a ame. 
Talvez eu ame a ideia de você. 
Talvez eu ame a ideia 
De ser alguém que ama. 
 
O que sei é que há um abismo 
Entre o que meu peito quer acreditar 
E o que minha alma sabe. 
 
E nesse abismo, 
Fico debruçado, 
Olhando o vento, 
Tentando adivinhar 
Se é brisa ou tempestade. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Sempre perdido

 Olhar em teus olhos 
É como seguir um mapa que muda sozinho, 
As ruas se dobram, os rios secam, 
E o norte escapa como fumaça. 
 
Eles têm a cor da promessa, 
Mas o peso da dúvida. 
Brilham como quem diz “vem”, 
Mas piscam como quem diz “foge”. 
 
É um mar que chama, 
Mas que afoga na primeira onda. 
É farol aceso, 
Apontando para um porto que não existe. 
 
Eles prometem caminhos, 
Mas escondem o abismo sob a sombra. 
São espelhos quebrados: 
Mostram beleza, mas cortam a mão de quem toca. 
 
E eu, 
Sempre perdido entre acreditar e partir, 
Continuo voltando, 
Mesmo sabendo que eles mentem. 
 
 Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Se sinto, então escrevo

Escrever é costurar a pele invisível das emoções para que elas não se percam no vento. 
O que não escrevo apodrece dentro; o que escrevo floresce fora. 
Sinto como quem mergulha e escrevo como quem retorna com as mãos cheias de água — e um pouco de céu refletido. 
A tinta é só um pretexto: o que corre na caneta é sangue que decidiu não gritar. 
Quando sinto demais, escrevo para não transbordar. 
Quando sinto de menos, escrevo para me encontrar. 
Palavras não me salvam, mas me mantêm respirando. 
Escrevo não para explicar o que sinto, mas para dar ao sentimento um corpo onde ele possa morar sem me ferir. 
 
Escrever é sangrar em silêncio, é deixar que a dor escorra sem que o mundo perceba. 
O que não escrevo apodrece no fundo da alma, criando raízes escuras que me puxam para baixo. 
Sinto como quem afunda e escrevo como quem respira pela última fenda de luz. 
A tinta não é tinta: é um veneno lento que, ao ser derramado no papel, me cura. 
Quando sinto demais, escrevo para não ser engolido. 
Quando sinto de menos, escrevo para lembrar que ainda existo. 
As palavras são ossos que retiro de mim para reconstruir um corpo que já não reconheço. 
Escrevo para dar forma ao vazio, para que ele não me consuma por inteiro. 
 
Minhas palavras são pétalas que cortam, perfumes que sufocam. 
Escrevo como quem acaricia uma ferida — não para curá-la, mas para ouvir o que ela tem a dizer. 
Há um tipo de beleza que só nasce do que está prestes a ruir, 
E é nessa beira de abismo que encontro minha voz. 
Cada frase é um sopro sobre brasas frias, tentando reacender algo que não sei se quero ver arder. 
Quando escrevo, o silêncio perde sua autoridade. 
Quando não escrevo, as sombras decidem por mim. 
Meu papel é um espelho rachado: nele, reflito o que sinto, 
Mas também o que temo demais para sentir. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Toda vez que te vejo

 Toda vez que te vejo, 
O mundo se torna transparente, 
Não há muro, 
Máscara ou sombra que esconda o que sinto. 
 
Meus olhos te denunciam 
Antes que minha boca ouse falar, 
E meu silêncio grita em cores que só você sabe ler. 
 
O coração não entende disfarces, 
Ele se apressa, tropeça e se entrega, 
Como se cada encontro fosse a primeira vez 
— E a última chance. 
 
Há um instante, entre o seu olhar e o meu, 
Em que o tempo se rende 
E deixa escapar o segredo que tento guardar. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O que eu não sei escrever

 Há um idioma que mora no silêncio, 
Feito de gestos que tremem antes de nascer, 
De palavras que se escondem atrás da língua 
Porque não sabem se serão entendidas. 
 
Eu carrego esse idioma nos olhos. 
É nele que digo sem dizer, 
É nele que grito sem som, 
É nele que você talvez escute 
O que eu ainda não aprendi a pronunciar. 
 
Talvez um dia eu descubra a frase exata, 
A medida certa entre coragem e medo. 
Mas até lá, deixo que minhas pausas 
Falem por mim, 
E que você leia nelas 
O que eu não sei escrever. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

domingo, 10 de agosto de 2025

As canções que não escrevi para você

 As canções que não escrevi para você 
Ainda vivem nas cordas da minha voz, 
Dormindo em um canto de silêncio 
Onde o tempo não pôde alcançar. 
 
Toda melodia que não nasceu 
É um beijo que não te dei, 
Um sopro de vento 
Que ficou preso no peito. 
 
Há versos que nunca souberam teu nome, 
Mas que carregam teu rosto 
Nas entrelinhas do ar. 
Versos que não consigo esquecer. 
 
O tempo me roubou a partitura, 
Mas não a música. 
Ela ainda dança na minha mente 
Quando penso em você. 
 
Cada canção perdida 
É uma pétala que caiu antes da primavera, 
Mas que ainda perfuma minhas mãos. 
Quem sabe a canção perfeita. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sábado, 9 de agosto de 2025

As sombras da caverna

 Aqueles que se tornam sombras 
No seio das tardes de verão 
Parecem carregar segredos 
Que o sol não ousa revelar. 
 
Caminham devagar, 
Como se cada passo fosse uma despedida, 
E seus rostos guardam 
A penumbra de memórias que ardem sem chama. 
 
São silhuetas que se dissolvem no calor, 
Feitas de silêncio e poeira, 
Entre o sussurro das árvores cansadas 
E o suspiro invisível das cigarras. 
 
O mundo os vê passar, mas não os toca, 
Eles já habitam um lugar onde o tempo é mais lento, 
Onde o céu parece olhar para dentro de si mesmo 
E encontrar um eco de eternidade. 
 
E quando se vão, 
A tarde se enche de um vazio dourado, 
Como se a luz, sem eles, 
Perdesse um pouco da sua própria história. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Quando aqui chegaram

 O mar abriu-se como uma ferida, 
E dele saíram homens cobertos de sal e ferrugem, 
Com o olhar afiado como lâmina. 
Nós éramos a terra — eles, a fome. 
 
Os seus passos esmagavam folhas 
Como se quisessem calar a floresta. 
Nossos olhos seguiam, 
Mas a floresta não se calava. 
 
Cheiravam a fumaça e ferro, 
E traziam no corpo a cor do pó 
Que não nasce daqui. 
O vento, antes livre, aprendeu a temer. 
 
Eles não vinham apenas com armas, 
Vinham com a certeza de que tudo tinha dono, 
E que o dono falava na língua deles. 
 
O ouro não brilhava para nós, 
Mas para eles era como sol engaiolado. 
E não há bicho mais perigoso 
Do que o homem que deseja prender o sol. 
 
Trouxeram suas cruzes para plantar no chão, 
Mas cada cruz era também um muro 
Levantado entre os nossos sonhos 
E o dia seguinte. 
 
Os barcos voltaram ao mar, 
Mas deixaram um rastro que não se apaga,
Um sabor de sangue misturado à seiva, 
Um silêncio 
Que aprendeu a gritar dentro da terra. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

quinta-feira, 7 de agosto de 2025

O desejo que consome

Quando me pergunto 
Por que esse desejo me consome? 
Só tenho essa resposta: 
É porque, quando te vejo, 
O mundo perde o compasso 
E o meu corpo aprende uma nova língua, 
Feita só de silêncio e vertigem. 
 
É porque o teu olhar não olha — ele invade, 
Rasga o instante 
E planta um incêndio na minha calma. 
 
É porque o teu nome, mesmo não dito, 
Lateja dentro de mim 
Como se fosse um feitiço antigo, 
Chamando para um lugar onde nunca estive, 
Mas que reconheço como casa. 
 
É porque o desejo não é fome simples, 
É tempestade que não pede licença, 
É maré que sobe mesmo sem lua, 
É sombra e luz dançando na mesma pele. 
 
E talvez seja porque, no fundo, 
Quando te vejo, 
Não é apenas você que encontro. 
Encontro o que falta em mim. 
E isso… me consome. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense