sábado, 2 de agosto de 2025

Hóspede clandestino

 O sonho que temos 
É sempre um hóspede clandestino, 
Chega sem avisar, veste sombras e cintilações, 
Deita-se no quarto mais escondido da alma 
E abre janelas que não sabíamos existir. 
 
Ele não pede chave nem permissão, 
Esgueira-se por frestas de pensamento 
Como um viajante 
Que sabe todos os atalhos do coração. 
 
Fica o tempo que quer, 
Rouba nossas horas, nossas certezas, 
E, quando parte, quase sempre, 
Deixa um bilhete indecifrável 
Sobre a mesa do amanhecer. 
 
Porque o sonho, mesmo amado, 
Nunca é morador fixo, 
É vento que carrega mapas invisíveis, 
É visita que sempre nos deixa um pouco mais 
Fora de nós mesmos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Carta para o teu coração invadido

Ei, 
 
Não se assuste se acordar um dia 
E me encontrar aí, 
Dentro. 
 
Não bati na porta, é verdade. 
Mas convenhamos: 
Teu coração sempre foi mais labirinto do que lar, 
E eu, mais curioso do que prudente. 
 
Invadi. 
Com charme, sarcasmo e zero arrependimento. 
 
Teus sentimentos? 
Revirei. 
Teus pensamentos? 
Já redecorei. 
Troquei tuas lembranças tristes por imagens minhas 
Rindo do teu orgulho. 
 
Sim, fui eu quem plantou aquela dúvida deliciosa 
No meio do teu raciocínio lógico. 
Fui eu que sussurrei meu nome 
Na tua cabeça, bem na hora errada, 
Ou melhor, na hora perfeita. 
 
E não, não quero sair. 
Não vim para ser hóspede. 
Vim para ser trauma bom. 
Vício de fim de noite. 
Cicatriz bonita que você mostra com um sorriso torto. 
 
Sabe aquela voz interna que discorda de ti? 
Sou eu. 
Aquela vontade súbita de mandar mensagem? 
Também sou eu. 
O friozinho na barriga quando pensa que talvez... 
Exato. 
Sou todos os “e se” que você tentou esquecer. 
 
Não finja que não gosta. 
Teu coração resistiu até demais. 
Agora é tarde: 
Sou o pensamento que você não pediu, 
Mas que veio com tudo incluso, 
Com sarcasmo, desejo 
E manual de instruções escrito em código de riso. 
 
Com amor, 
(E uma pitada de deboche) 
O invasor que você deixou entrar sem perceber. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense