Vestem ternos de fumaça,
Legislam palavras como correntes,
Alimentam a podridão com flores de retórica.
Padres e pastores:
Vendem céus parcelados,
Esculpem pecados em ouro,
Sussurram conformismos
Que amansam feras famintas.
Patrões e polícia:
Vigias da ordem torta,
Arquitetos de silêncio,
Moldam o suor em grilhões invisíveis,
Fazem da colaboração uma prisão voluntária.
Pais e professores:
Sementes de ideias,
Mas tantas vezes regadas
Com medo, tradição e obediência;
Educam para caber no molde,
Não para transbordar dele.
E o povo,
Espelho de todos os outros,
Carrega a chave e a algema,
O grito e o silêncio,
A revolta e a resignação.
É causa e consequência,
Carne do mesmo corpo
Que oprime e é oprimido.
No fim,
Todos são reflexos da mesma engrenagem,
Um teatro em que cada ator
Representa a máscara que lhe deram,
Sem notar que o palco
É feito de sua própria carne.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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