sábado, 6 de setembro de 2025

O mal está na letra P

 Políticos, partidos, parlamento: 
Vestem ternos de fumaça, 
Legislam palavras como correntes, 
Alimentam a podridão com flores de retórica. 
 
Padres e pastores: 
Vendem céus parcelados, 
Esculpem pecados em ouro, 
Sussurram conformismos 
Que amansam feras famintas. 
 
Patrões e polícia: 
Vigias da ordem torta, 
Arquitetos de silêncio, 
Moldam o suor em grilhões invisíveis, 
Fazem da colaboração uma prisão voluntária. 
 
Pais e professores: 
Sementes de ideias, 
Mas tantas vezes regadas 
Com medo, tradição e obediência; 
Educam para caber no molde, 
Não para transbordar dele. 
 
E o povo, 
Espelho de todos os outros, 
Carrega a chave e a algema, 
O grito e o silêncio, 
A revolta e a resignação. 
É causa e consequência, 
Carne do mesmo corpo 
Que oprime e é oprimido. 
 
No fim, 
Todos são reflexos da mesma engrenagem, 
Um teatro em que cada ator 
Representa a máscara que lhe deram, 
Sem notar que o palco 
É feito de sua própria carne. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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