Onde o absurdo se revela em silêncio.
Não há promessa, não há destino escrito
Apenas a repetição dos dias,
Onde o peso das responsabilidades
Se mistura à estranha sensação de que nada, em essência,
Tem um sentido definitivo.
As amarguras deixam de ser acidentes
E tornam-se a textura natural da existência:
O vazio das rotinas, a fadiga dos corpos,
A constatação de que cada conquista é efêmera,
Escorregando por entre os dedos como areia.
E, no entanto, é nesse mesmo vazio
Que se ergue a possibilidade da liberdade.
Se nada tem um sentido dado,
Podemos ser nós a criar o contorno das coisas.
A vida adulta, então, é o exercício constante
De se levantar contra o absurdo,
Mesmo sabendo que o absurdo permanece.
Carregamos a pedra, como Sísifo,
Não para vencê-la,
Mas para afirmar que, no ato de empurrá-la,
Há uma forma de dignidade.
E talvez seja essa a única conquista possível:
Não a vitória final,
Mas a recusa de ceder ao nada.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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