terça-feira, 16 de setembro de 2025

O fardo da vida adulta

 A vida adulta é o palco 
Onde o absurdo se revela em silêncio. 
Não há promessa, não há destino escrito 
Apenas a repetição dos dias, 
Onde o peso das responsabilidades 
Se mistura à estranha sensação de que nada, em essência, 
Tem um sentido definitivo. 
 
As amarguras deixam de ser acidentes 
E tornam-se a textura natural da existência: 
O vazio das rotinas, a fadiga dos corpos, 
A constatação de que cada conquista é efêmera, 
Escorregando por entre os dedos como areia. 
 
E, no entanto, é nesse mesmo vazio 
Que se ergue a possibilidade da liberdade. 
Se nada tem um sentido dado, 
Podemos ser nós a criar o contorno das coisas. 
A vida adulta, então, é o exercício constante 
De se levantar contra o absurdo, 
Mesmo sabendo que o absurdo permanece. 
 
Carregamos a pedra, como Sísifo, 
Não para vencê-la, 
Mas para afirmar que, no ato de empurrá-la, 
Há uma forma de dignidade. 
E talvez seja essa a única conquista possível: 
Não a vitória final, 
Mas a recusa de ceder ao nada. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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