quinta-feira, 25 de setembro de 2025

A janela do ônibus

 A janela do ônibus 
Ensina mais que a televisão, 
Porque nela o mundo não se edita, 
Apenas acontece. 
As ruas não seguem roteiros, 
As pessoas não são personagens, 
E cada rosto que cruza o vidro 
É um livro fechado, 
Um enigma que passa e não volta. 
 
Na televisão, 
A vida é moldada 
Para caber no enquadramento; 
Na janela, ela transborda, 
É poeira que invade o pulmão, 
É criança que corre descalça, 
É velho que se senta cansado, 
É cachorro que late para nada. 
 
O ônibus segue e a paisagem muda, 
Como páginas viradas sem pressa, 
E a lição é silenciosa: 
Não há controle remoto para o acaso. 
Ali, aprende-se que viver é passagem, 
Que o instante só existe enquanto se move, 
Que o real não precisa de aplausos 
Para ser verdade. 
 
A televisão mostra histórias; 
A janela mostra destinos. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

Nenhum comentário:

Postar um comentário