sábado, 27 de setembro de 2025

Manifesto

 Nós, seres pulsantes, 
Não somos apenas carne, nem apenas pensamento, 
Somos linguagem em estado de ser. 
 
Nascemos nomeados, 
E desde o primeiro som que nos designa, 
Começa o lento e infinito processo de nos escrevermos. 
 
Rejeitamos a ideia de que a palavra é mera ferramenta. 
A palavra é origem. 
É nela que o mundo toma forma, 
É por ela que existimos diante do outro e diante de nós mesmos. 
 
Ser é dizer-se 
Mesmo que em silêncio, mesmo que entre ruídos. 
Mesmo que com palavras quebradas, 
Incapazes de conter o abismo que é viver. 
 
Acreditamos que cada ser é um texto em reescrita constante. 
Que o humano não se encerra num rótulo, 
Num título, ou numa sentença. 
O humano é metáfora, 
É entrelinha, 
É aquilo que escapa da definição. 
 
Proclamamos o direito de sermos ambíguos, 
Misteriosos, contraditórios, 
Porque tudo que é vivo pulsa entre extremos. 
 
Defendemos o silêncio como forma de linguagem. 
A pausa também fala. 
O não dito também constrói. 
 
Negamos a tirania do sentido único. 
A verdade não é uma só, 
Ela se dobra, se esconde, se revela em camadas, 
Como o próprio ser. 
 
Por isso, caminhamos como poetas da existência. 
Reescrevendo o que somos a cada encontro, 
A cada queda, 
A cada descoberta 
De um novo nome para a dor ou para o amor. 
 
Somos o verbo que vibra. 
O som que tenta alcançar o infinito. 
O homem feito em palavras, 
Inacabado, indomável, 
Eternamente em construção. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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