Não somos apenas carne, nem apenas pensamento,
Somos linguagem em estado de ser.
Nascemos nomeados,
E desde o primeiro som que nos designa,
Começa o lento e infinito processo de nos escrevermos.
Rejeitamos a ideia de que a palavra é mera ferramenta.
A palavra é origem.
É nela que o mundo toma forma,
É por ela que existimos diante do outro e diante de nós mesmos.
Ser é dizer-se
Mesmo que em silêncio, mesmo que entre ruídos.
Mesmo que com palavras quebradas,
Incapazes de conter o abismo que é viver.
Acreditamos que cada ser é um texto em reescrita constante.
Que o humano não se encerra num rótulo,
Num título, ou numa sentença.
O humano é metáfora,
É entrelinha,
É aquilo que escapa da definição.
Proclamamos o direito de sermos ambíguos,
Misteriosos, contraditórios,
Porque tudo que é vivo pulsa entre extremos.
Defendemos o silêncio como forma de linguagem.
A pausa também fala.
O não dito também constrói.
Negamos a tirania do sentido único.
A verdade não é uma só,
Ela se dobra, se esconde, se revela em camadas,
Como o próprio ser.
Por isso, caminhamos como poetas da existência.
Reescrevendo o que somos a cada encontro,
A cada queda,
A cada descoberta
De um novo nome para a dor ou para o amor.
Somos o verbo que vibra.
O som que tenta alcançar o infinito.
O homem feito em palavras,
Inacabado, indomável,
Eternamente em construção.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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