As palavras escritas
São fendas invisíveis
Na parede da realidade,
Por onde escapa o sopro
De mundos ainda não sonhados.
Elas não se contentam
Em ser sinais sobre o papel;
Tremem como raízes
À procura de quem ouse
Descer além da superfície.
Quem se prende à rotina
Vê apenas manchas, linhas, repetições.
Mas quem se entrega à leitura
Como quem abre um cofre secreto,
Descobre corredores de silêncio
Que levam a jardins sombrios,
Desertos esquecidos,
Mares que nunca existiram.
Cada palavra é uma senha;
Cada frase, um rito de passagem.
E quando o pensamento ousa atravessar,
Nada permanece igual:
O mundo de fora continua rígido,
Mas dentro de nós a paisagem se abre
Como se o tempo tivesse outra cor.
Porque escrever — e ler
É sempre violar fronteiras invisíveis,
É fazer do comum um portal,
É erguer moradas secretas
No coração do que parecia banal.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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