sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Escrever é violar fronteiras

As palavras escritas 
São fendas invisíveis 
Na parede da realidade, 
Por onde escapa o sopro 
De mundos ainda não sonhados. 
Elas não se contentam 
Em ser sinais sobre o papel; 
Tremem como raízes 
À procura de quem ouse 
Descer além da superfície. 
 
Quem se prende à rotina 
Vê apenas manchas, linhas, repetições. 
Mas quem se entrega à leitura 
Como quem abre um cofre secreto, 
Descobre corredores de silêncio 
Que levam a jardins sombrios, 
Desertos esquecidos, 
Mares que nunca existiram. 
 
Cada palavra é uma senha; 
Cada frase, um rito de passagem. 
E quando o pensamento ousa atravessar, 
Nada permanece igual: 
O mundo de fora continua rígido, 
Mas dentro de nós a paisagem se abre 
Como se o tempo tivesse outra cor. 
 
Porque escrever — e ler 
É sempre violar fronteiras invisíveis, 
É fazer do comum um portal, 
É erguer moradas secretas 
No coração do que parecia banal. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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