Como quem sorve o néctar das madrugadas,
Mas em cada lábio, deixei intacta minha fome.
O que busco não tem nome,
Não está no toque, nem no perfume,
Mas num abismo onde o amor não alcança.
As mulheres me deram beijos como dádivas,
Sussurros doces na pele cansada.
Mas eu era sede antiga,
De água que não corre em veias humanas.
Beijei como quem tenta recordar um sonho,
E despertei mais vazio.
Suas bocas eram jardins,
Mas o fruto que eu queria
Jamais brotou entre seus dentes.
As mulheres me beijavam
Como quem fecha os olhos para esquecer,
E eu respondia
Como quem os abre para lembrar
De algo que nunca existiu.
Fui amado em noites cálidas,
Beijado até que o tempo se dissolvesse,
Mas nada nelas acalmava
A fúria de um desejo mais antigo que a carne.
Minha sede era do invisível.
E elas — tão belas — eram apenas corpos.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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