sexta-feira, 18 de julho de 2025

Quem vai de graça?

 O direito de brigar por respeito 
Não é gentileza, 
É herança de quem sobreviveu 
Com o pescoço na mira 
E o nome na ficha. 
 
Justiça não chega de mãos dadas, 
Ela vem sangrando, 
Gritando em portarias que não se abrem, 
Com um filho no colo 
E o outro no chão. 
 
Negros não pedem demais, 
Pedem o que foi negado 
Antes mesmo de nascerem: 
Respeito sem condicionais, 
Vida sem estatística, 
Futuro que não come pela beirada. 
 
Enquanto isso, 
O revólver engatilhado treme 
Na mão do Estado, 
Mas nunca erra o alvo certo: 
A pele escura, 
O boné torto, 
O passo acelerado no beco errado. 
 
Quem vai de graça? 
Quem entra algemado e sai plastificado, 
Sem direito a defesa, 
Sem ver o nome no jornal, 
Apenas nas planilhas da tragédia? 
 
Brigar é verbo de sobrevivente. 
É a última dignidade 
Antes do silêncio imposto. 
 
E ainda assim, 
Nos olham como se fosse demais 
Pedir o mínimo. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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