quarta-feira, 23 de julho de 2025

Manual Prático da Convivência Humana (ou Como Não Ser Bom)

É impressionante, de verdade, 
Todo mundo quer amor, 
Mas ninguém quer ceder o banco no ônibus. 
Querem empatia, 
Mas não suportam ouvir um desabafo 
Que ultrapasse trinta segundos. 
 
A regra é clara: 
Sofra em silêncio, sorria em público, 
E, se possível, faça o outro tropeçar 
Só para parecer que você caminha melhor. 
 
A indiferença é artigo de luxo, 
E a grosseria? 
Ah, é confundida com sinceridade, 
Desde que machuque o outro, 
Nunca o próprio ego. 
 
A gentileza morreu num cruzamento, 
Atropelada por um carro com vidro escuro 
E pressa para lugar nenhum. 
A empatia virou hobby de domingo, 
Como jardinagem ou meditação, 
Mas ninguém quer sujar as mãos 
Com as raízes dos outros. 
 
Somos todos tão bons em não ser bons 
Que criamos um vocabulário inteiro para isso: 
"Limites", "autocuidado", 
"Não tenho culpa se você se magoa fácil". 
 
A verdade? 
Ser bom dá trabalho. 
Exige pausa. Olhar. Presença. 
E isso… bom, isso não cabe no cronograma. 
 
No fim, a humanidade é esse grande teatro 
Onde todo mundo finge não estar sangrando, 
Desde que o outro esteja sangrando mais. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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