É impressionante, de verdade,
Todo mundo quer amor,
Mas ninguém quer ceder o banco no ônibus.
Querem empatia,
Mas não suportam ouvir um desabafo
Que ultrapasse trinta segundos.
A regra é clara:
Sofra em silêncio, sorria em público,
E, se possível, faça o outro tropeçar
Só para parecer que você caminha melhor.
A indiferença é artigo de luxo,
E a grosseria?
Ah, é confundida com sinceridade,
Desde que machuque o outro,
Nunca o próprio ego.
A gentileza morreu num cruzamento,
Atropelada por um carro com vidro escuro
E pressa para lugar nenhum.
A empatia virou hobby de domingo,
Como jardinagem ou meditação,
Mas ninguém quer sujar as mãos
Com as raízes dos outros.
Somos todos tão bons em não ser bons
Que criamos um vocabulário inteiro para isso:
"Limites", "autocuidado",
"Não tenho culpa se você se magoa fácil".
A verdade?
Ser bom dá trabalho.
Exige pausa. Olhar. Presença.
E isso… bom, isso não cabe no cronograma.
No fim, a humanidade é esse grande teatro
Onde todo mundo finge não estar sangrando,
Desde que o outro esteja sangrando mais.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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