segunda-feira, 14 de julho de 2025

Os diários da juventude

 Os diários da juventude 
São cemitérios de palavras que, um dia, ardiam. 
Frases escritas 
Com o sangue quente da descoberta, 
Mas que hoje jazem caladas, 
Mortas por quem as escreveu. 
 
Não foram os anos que as mataram, 
Mas a própria mão que, ao crescer, 
Renegou o que foi. 
 
A juventude escreve para não se afogar. 
Mas o adulto, ao reler, 
Sente vergonha da própria margem. 
 
E então rasga, queima, cala. 
As palavras, outrora vivas, 
Morrem de fome, 
De silêncio, 
De esquecimento voluntário. 
 
Talvez por isso os diários envelheçam mal: 
Não suportam ser lidos por olhos que perderam 
A febre das primeiras vezes. 
 
Mas quem dera tivéssemos coragem 
De abraçar a tolice da juventude, 
Pois ali, entre o exagero e o espanto, 
Mora uma verdade que o tempo 
Não consegue mais escrever. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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