Verão reflexos distorcidos do que não ousaram ser.
Talvez tentem nos medir por réguas antigas,
Mas nossas formas dissolvem-se
Nas bordas do espelho.
Seremos o ruído que escapa da harmonia,
A nota que insiste em não caber,
E é justamente ali que mora a beleza.
Nossa estranheza não pede compreensão,
Apenas espaço para respirar.
Quem tentar domá-la
Acabará se vendo despido de suas certezas,
Como quem acende uma vela e percebe
Que a chama ilumina também o que teme.
Seremos estudados como insetos raros,
Mas ninguém notará que somos o espelho do futuro.
Eles chamarão de desvio o que é apenas
A lembrança do que foram,
Humanos em metamorfose constante.
Talvez nos temam.
Talvez nos adorem.
Mas nunca nos compreenderão por completo.
Porque a estranheza é o idioma dos que habitam
Entre mundos,
E o verbo que conjuga o inominável.
No fim, aprenderão a lidar conosco
Do mesmo modo que o corpo lida com a febre:
Suando, delirando, transformando-se.
E quando enfim aceitarem o desconforto,
Descobrirão que a estranheza sempre esteve neles,
Silenciosa, esperando ser nomeada.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Nenhum comentário:
Postar um comentário