domingo, 19 de outubro de 2025

Humanos em metamorfose

 Quando nos olharem, 
Verão reflexos distorcidos do que não ousaram ser. 
Talvez tentem nos medir por réguas antigas, 
Mas nossas formas dissolvem-se 
Nas bordas do espelho. 
Seremos o ruído que escapa da harmonia, 
A nota que insiste em não caber, 
E é justamente ali que mora a beleza. 
 
Nossa estranheza não pede compreensão, 
Apenas espaço para respirar. 
Quem tentar domá-la 
Acabará se vendo despido de suas certezas, 
Como quem acende uma vela e percebe 
Que a chama ilumina também o que teme. 
 
Seremos estudados como insetos raros, 
Mas ninguém notará que somos o espelho do futuro. 
Eles chamarão de desvio o que é apenas 
A lembrança do que foram, 
Humanos em metamorfose constante. 
 
Talvez nos temam. 
Talvez nos adorem. 
Mas nunca nos compreenderão por completo. 
Porque a estranheza é o idioma dos que habitam 
Entre mundos, 
E o verbo que conjuga o inominável. 
 
No fim, aprenderão a lidar conosco 
Do mesmo modo que o corpo lida com a febre: 
Suando, delirando, transformando-se. 
E quando enfim aceitarem o desconforto, 
Descobrirão que a estranheza sempre esteve neles, 
Silenciosa, esperando ser nomeada. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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