sábado, 18 de outubro de 2025

O labirinto dentro de mim

 Hoje escrevi pouco, mas pensei muito. 
Descobri que escrever não é produzir frases, 
É escutar o que o silêncio tenta me dizer. 
Há uma luz tímida que se acende 
Quando paro de forçar o pensamento. 
É nessa penumbra calma 
Que as palavras se aproximam de mim, 
Com cuidado, como se temessem ser espantadas. 
 
Escrever exige um tipo de paciência 
Que o mundo desaprendeu. 
Não a paciência de quem espera o tempo passar, 
Mas a de quem observa 
O tempo trabalhar por dentro das ideias, 
Lapidando-as sem pressa. 
Às vezes sinto que o texto me escreve também, 
Devagar, no mesmo ritmo 
Em que o pensamento vai se clareando. 
 
Há dias em que tudo é ruído, 
E eu, impaciente, tento forçar uma claridade. 
Mas a escrita não tolera pressa. 
Ela precisa que eu me demore, 
Que eu aceite o vazio, 
Que eu ilumine aos poucos 
O labirinto dentro de mim. 
É estranho: quanto mais me rendo, 
Mais encontro o caminho. 
 
Escrever, para mim, é 
Uma forma de respirar entre as sombras. 
Cada frase é uma lanterna acesa 
Na névoa do pensamento. 
E se às vezes a luz vacila, 
Aprendo a protegê-la com as mãos da paciência. 
 
Hoje compreendi algo simples e duro: 
A pressa é inimiga da revelação. 
O que é verdadeiro em mim 
Só se mostra 
Quando aceito não compreender tudo de uma vez. 
Escrever é isso, 
Iluminar o pensamento, 
Mas com a humildade de quem sabe 
Que a luz também cansa, 
E precisa de escuridão para existir. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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