Descobri que escrever não é produzir frases,
É escutar o que o silêncio tenta me dizer.
Há uma luz tímida que se acende
Quando paro de forçar o pensamento.
É nessa penumbra calma
Que as palavras se aproximam de mim,
Com cuidado, como se temessem ser espantadas.
Escrever exige um tipo de paciência
Que o mundo desaprendeu.
Não a paciência de quem espera o tempo passar,
Mas a de quem observa
O tempo trabalhar por dentro das ideias,
Lapidando-as sem pressa.
Às vezes sinto que o texto me escreve também,
Devagar, no mesmo ritmo
Em que o pensamento vai se clareando.
Há dias em que tudo é ruído,
E eu, impaciente, tento forçar uma claridade.
Mas a escrita não tolera pressa.
Ela precisa que eu me demore,
Que eu aceite o vazio,
Que eu ilumine aos poucos
O labirinto dentro de mim.
É estranho: quanto mais me rendo,
Mais encontro o caminho.
Escrever, para mim, é
Uma forma de respirar entre as sombras.
Cada frase é uma lanterna acesa
Na névoa do pensamento.
E se às vezes a luz vacila,
Aprendo a protegê-la com as mãos da paciência.
Hoje compreendi algo simples e duro:
A pressa é inimiga da revelação.
O que é verdadeiro em mim
Só se mostra
Quando aceito não compreender tudo de uma vez.
Escrever é isso,
Iluminar o pensamento,
Mas com a humildade de quem sabe
Que a luz também cansa,
E precisa de escuridão para existir.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
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