Não posso voltar para ontem,
Porque o que fui se dissolveu nas águas do tempo.
Aquele que olhava o espelho com esperança
Já não reconheceria este olhar cansado de agora.
Ontem era um abrigo que se desfez em sonho.
Hoje caminho
Entre as ruínas daquilo que acreditei ser.
Não posso regressar — não por falta de caminho,
Mas porque a porta que fui já não existe.
O ontem me chama,
Mas sua voz vem de um corpo que não é mais o meu.
Era outro o pulso, outra a fé, outro o medo.
Voltar seria vestir uma pele que o tempo rasgou.
Há dias em que tento tocar o ontem
Como quem busca um fantasma querido.
Mas o toque atravessa o ar,
Porque fui, e o que fui não me espera mais.
Não posso voltar para ontem
Porque lá
Eu era inocente do que o tempo me ensinaria.
E o aprendizado, ainda que ferido,
É o preço da permanência no agora.
O ontem é uma sombra que não me pertence.
Sou o eco de quem fui,
O silêncio entre duas versões de mim mesmo.
Talvez o ontem ainda exista,
Mas guardado em um lugar onde eu não moro mais.
E tudo o que resta é este corpo novo,
Feito de perdas que aprendeu a respirar.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense
Nenhum comentário:
Postar um comentário