sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Jardim do devaneio

 Nasce o devaneio 
Quando o silêncio respira fundo, 
É ali que o desejo encontra o espelho da alma 
E a tentação veste o perfume do impossível. 
 
Toda imaginação tem um ponto de febre, 
Um brilho úmido entre o real e o sonho, 
Onde o corpo quer tocar 
O que a mente teme nomear. 
 
O devaneio é um jardim 
Escondido sob as pálpebras. 
As flores são desejos antigos, 
As sombras, 
Tentações que nunca aprenderam a morrer. 
 
Há um instante 
Em que o pensamento se curva 
Ao prazer do próprio delírio. 
É aí que o devaneio nasce, 
Filho da falta e do fogo, 
Irmão do que não se pode dizer. 
 
Tudo o que desejamos demais cria um eco. 
Esse eco se transforma em sonho, 
E o sonho, quando não cabe mais na noite, 
Vira devaneio, 
Um rio subterrâneo de vontades sem nome. 
 
O devaneio não é fuga, é retorno. 
Retorno àquilo que fomos 
Antes da razão nos domar, 
À pureza do querer, 
Ao instante 
Em que o proibido ainda não tinha forma. 
 
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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