Quando o silêncio respira fundo,
É ali que o desejo encontra o espelho da alma
E a tentação veste o perfume do impossível.
Toda imaginação tem um ponto de febre,
Um brilho úmido entre o real e o sonho,
Onde o corpo quer tocar
O que a mente teme nomear.
O devaneio é um jardim
Escondido sob as pálpebras.
As flores são desejos antigos,
As sombras,
Tentações que nunca aprenderam a morrer.
Há um instante
Em que o pensamento se curva
Ao prazer do próprio delírio.
É aí que o devaneio nasce,
Filho da falta e do fogo,
Irmão do que não se pode dizer.
Tudo o que desejamos demais cria um eco.
Esse eco se transforma em sonho,
E o sonho, quando não cabe mais na noite,
Vira devaneio,
Um rio subterrâneo de vontades sem nome.
O devaneio não é fuga, é retorno.
Retorno àquilo que fomos
Antes da razão nos domar,
À pureza do querer,
Ao instante
Em que o proibido ainda não tinha forma.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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