Quando te nomeio, o verbo apodrece em mim,
Porque há febre no teu nome,
Há doença na tua lembrança.
Declamar você é sujar a própria boca.
Minha voz te busca nas frestas da carne,
E cada sílaba tua me contamina.
Não há pureza possível quando te evoco,
Somos lodo e espelho, febre e oração,
Um mesmo corpo delirando de amor e doença.
Declamar você é abrir feridas antigas.
A poesia que te chama vem manchada,
Não de tinta, mas de pus,
Não de arte, mas de febre.
Sou impuro — e ainda assim te adoro.
Há beleza no que apodrece devagar.
No som que traz germes e lembranças.
Quando declamo você,
Não é o poema que fala,
É a doença tentando sobreviver em mim.
Sou impuro, e talvez por isso te compreenda.
Há sujeira em cada verso que te nomeia,
Um tipo de santidade invertida,
Onde o sagrado é o que sangra.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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