Com o coração feito pedra lisa de rio,
Que o tempo leva e o sol aquece.
Mas há os que pensam demais,
E neles o mundo pesa mais do que devia.
Carregam o que foi,
O que poderia ter sido,
E até o que nunca será.
A cada ideia, uma pedra.
A cada lembrança, um eco que não cessa.
O pensamento é um poço sem corda:
Olhar demais é ver o reflexo afogar-se
No espelho das próprias perguntas.
E há tantas perguntas,
Tantas que o ar se torna denso,
E o simples ato de respirar
Parece um exercício de sobrevivência.
A lucidez arde como chama:
Ilumina o caminho, mas consome o andarilho.
O que vê demais esquece o que sente,
E o que sente demais não consegue esquecer.
Há um instante, porém,
Em que o peso e o pensar se equilibram:
Quando a mente se cala,
E o vento, esse velho filósofo,
Ensina o corpo a existir sem explicação.
Poema: Odair José, Poeta Cacerense

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